Título: Exportação desafia o câmbio
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2006, Economia & Negócios, p. B2

As exportações, na média por dia útil, acusaram crescimento de 15,4% em relação a janeiro e as importações, de 12,7%. Mas, como o real continua se apreciando em relação ao dólar, é de bon ton mostrar-se preocupado. As exportações acusaram, em relação a fevereiro de 2005, crescimento de 12,8% e as importações, de 19%: não se podem considerar esses valores como preocupantes, especialmente considerando a valorização da moeda nacional. É importante notar que as exportações de manufaturados cresceram 14,4% em relação ao mesmo mês do ano passado; as de produtos básicos, 12,3%; e as de semimanufaturados, 1,1%. Tudo indica que a indústria conseguiu adaptar-se à taxa cambial. É verdade que houve, entre os dois períodos, forte aumento de alguns preços, cabendo mencionar alguns produtos cujos preços aumentaram mais do que o volume exportado: petróleo bruto, açúcar, soja em grão. Pode-se considerar ainda que o Brasil conseguiu conquistar novos mercados, como em alguns países para os quais as vendas foram superiores a US$ 20 milhões: em fevereiro, relativamente ao mês anterior, registraram-se aumentos para a Grécia (282,5%), Porto Rico (159,2%) e Turquia (79,2%).

Se existe uma preocupação, é pelo fato de que, aparentemente, somente as grandes empresas estão sendo capazes de reagir ao fortalecimento do real, enquanto as pequenas estão sendo excluídas, como o mostra a grande redução no número das empresas exportadoras.

Deve-se atentar para o fato de que as exportações para os grandes mercados mostraram, em fevereiro, uma redução, como no caso da Ásia (7,1%).

Outra preocupação é que, em relação ao mesmo mês de 2005, as importações cresceram mais do que as exportações. Isso era previsto, e de um certo modo desejável, na medida em que refreia o ritmo de valorização do real e favorece as exportações. A apreciação do real foi impulsionada em fevereiro por um superávit recorde, o maior em oito anos, de US$ 7,75 bilhões, proveniente não só da área comercial, mas também da contratação de novos empréstimos e da forte mudança de uma posição vendida (US$ 4,6 bilhões) para uma posição comprada (US$ 200 milhões) das instituições financeiras, o que poderia prenunciar uma desvalorização do real.

Em relação a fevereiro de 2005, são as importações de bens de capital que acusaram o maior crescimento (26,6%), evidenciando aumento dos investimentos. Seguiram-se a eles os bens de consumo duráveis (26,1%), o que parece indicar uma perda de capacidade da indústria em razão da carga tributária.