Título: Confusões provocam desconfiança no exterior
Autor: Leonardo Goy
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2006, Economia & Negócios, p. B4

O comércio internacional do etanol brasileiro esbarra na sustentabilidade e as confusões do mercado doméstico acabam provocando desconfiança no comprador e no investidor. "O álcool é uma cadeia que não pode ter nenhum elo fraco. Temos que desenvolver uma gestão moderna e profissional", defende o coordenador do Pólo Nacional de Biocombustíveis, Weber Amaral, que esta semana recebeu em Piracicaba um grupo de suecos em busca de informações sobre garantias socioambientais e de fornecimento.

Amaral preferiu não "achar culpados" para a crise do álcool no mercado doméstico, mas classificou como "burrice" algumas declarações e atitudes dos envolvidos. "Precisamos ter condições de resolver nossos problemas para construir uma imagem de confiança e demonstrar ao mercado externo que somos um parceiro de credibilidade. "Do contrário, vamos continuar como meros produtores de açúcar e de álcool."

Para se posicionar nesse mercado, o País precisa criar e transferir tecnologia, transformar o mercado doméstico em global e garantir que o etanol se torne uma commodity como é o açúcar, diz o coordenador. "Se o Brasil imaginar que é dono da verdade, pode esquecer e fechar a malinha." Segundo ele, certificação, sustentabilidade, confiabilidade e trabalho em conjunto, do agricultor à Petrobrás, são indispensáveis.

O governo, segundo Amaral, "não pode interferir tanto no mercado, mas precisa ser inteligente para não afastar o interesse do investidor". Ele acha que o País precisa de salvaguardas e subsídios para o setor. O coordenador alegou que sustentabilidade é a palavra-chave. "Os suecos estavam preocupados que o cultivo da cana provocasse desmatamento na Amazônia."

As dúvidas sobre a produção do etanol se repetem entre os compradores internacionais. "Vamos ter de adequar essas questões técnicas ou estamos fora do mercado", afirmou Amaral, lembrando que o País terá de enfrentar barreiras e exigências internacionais.

O Brasil tem hoje cerca de 5,5 milhões de hectares de cana, que produzem por ano cerca de 17 bilhões de litros de álcool. Para 2013, a previsão é de 9 milhões de hectares, 3,5 milhões de áreas novas, e 24 bilhões de litros de álcool.