Título: 'Apetite pelo risco Brasil é brutal'
Autor: Fabio Graner, Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2006, Economia & Negócios, p. B1,3

Paulo Leme vê na tributação zero para estrangeiros um estímulo para a troca da dívida pública externa por interna

As mudanças na tributação dos investimentos estrangeiros no mercado financeiro representam uma grande oportunidade para resolver os problemas fiscais brasileiros, de acordo com Paulo Leme, diretor de Mercados Emergentes do Goldman Sachs, banco de investimentos americano.

"O apetite por risco Brasil está tão brutal e a melhora do nosso balanço de pagamentos é tão extraordinária que isso traz uma oportunidade única para resolver de uma vez por todas o problema fiscal", ele diz.

Leme observa que o perfil do investidor estrangeiro, no que se refere à tomada de riscos, é muito diferente do nacional. Enquanto os brasileiros estão acostumados ao curto prazo, tendendo para o overnight, os estrangeiros buscam aplicações mais longas, que tenham rentabilidade maior que as taxas baixíssimas que prevalecem no mercado internacional extremamente líquido.

Ele acha que, com o estímulo aos estrangeiros, pode haver uma troca de dívida externa por interna e o governo terá facilidade bem maior para colocar títulos domésticos de três a cinco anos de prazo, com taxas mais baixas. A demanda dos estrangeiros, por sua vez, pode arrastar a dos investidores nacionais, levando ao alongamento e barateamento da dívida ainda maior.

Leme considera, inclusive, que a mudança da tributação para os estrangeiros pode abrir a possibilidade de realização de um programa específico de troca de dívida externa no mercado interno, nos moldes do que já foi realizado no México.

A queda dos juros, por sua vez, poderia representar uma substancial economia fiscal para o Tesouro. "O problema fiscal está concentrado na questão da dívida pública e no déficit estrutural da Previdência", diz Leme. Ele considera que esse segundo ponto é de abordagem muito difícil em um ano eleitoral. Já as mudanças tributárias no investimento estrangeiro, que poderiam baratear a dívida pública e melhorar o seu perfil, são menos problemáticas politicamente.

Isso não quer dizer, porém, que não haja nenhuma dificuldade. Leme nota que "o presidente precisa ter coragem porque é no mínimo controverso, em uma ano eleitoral, cortar impostos para o estrangeiros e manter a carga tributária para os nacionais".

O economista diz que nunca, em toda a sua carreira, observou tamanha demanda estrangeira por papéis brasileiros. Ele atribui o fato à altíssima velocidade da melhora no balanço de pagamentos. "Os indicadores do México ainda são melhores que os do Brasil, mas o ritmo de melhora dos nossos é muito maior", ele observa.

Segundo dados de Drausio Giacomelli, vice-presidente de Mercados Emergentes do JP Morgan, a América Latina já financiou antecipadamente todos os vencimentos da dívida externa até 2007.