Título: Caixa diz que já resolveu 80% das falhas apontadas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2006, Economia & Negócios, p. B3

Banco admite problema desde 1998, que começou a ser sanado em 2001

A Caixa Econômica Federal admitiu que se encontra em situação de "evidência" junto ao Banco Central (BC), mas garantiu estar adotando todas as medidas possíveis para sanar os problemas apontados pelas inspeções. A Caixa afirma que, desde 2001, já resolveu 80% das falhas detectadas.

Segundo o vice-presidente de Controladoria, João Aldemir Dornelles, as auditorias do BC resultaram, ainda em 2001, num plano de ação da Caixa com 168 tópicos a serem resolvidos na área dele. Dornelles diz que 128 desses tópicos já foram solucionados e os demais estão no mesmo caminho.

"A situação de 'evidência' começou por causa de uma série de auditorias feitas pelo BC a partir de 1998 e finalizadas em 2001, quando a Caixa foi reestruturada", explicou. "Desde então, temos trabalhado para responder a esses questionamentos e a maioria deles estará resolvida até o fim deste ano. É preciso entender que a cultura de controle interno é nova na instituição e as deficiências foram se acumulando ao longo do tempo."

O vice-presidente de Controladoria afirmou que, em resposta às deficiências levantadas pelo BC, a Caixa promoveu concurso interno para aumentar o número de auditores. O banco também criou três vice-presidências (Controladoria, Administração de Riscos e Tecnologia da Informação).

Segundo a Caixa, os problemas nas avaliações de crédito apontados pelo BC e por Levy também estão sendo resolvidos, com a criação de mecanismos que limitam o raio de ação dos gerentes bancários, para impedir prejuízos e fraudes. "Estamos segregando as atividades dentro das agências para minimizar os problemas", garantiu Dornelles.

Das deficiências indicadas pelo BC, a Caixa admitiu que ainda não resolveu as falhas na concessão de créditos imobiliários, a migração do sistema de loterias operado pela multinacional Gtech e os problemas no setor jurídico. Mas o banco assegura estar solucionando todas essas questões. "A questão do novo sistema de crédito imobiliário deve tomar ainda mais dois anos, por ser extremamente complexa."

DOCUMENTOS SIGILOSOS

Procurado pelo Estado, o presidente do Conselho de Administração da Caixa e secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, não quis comentar o teor das cartas que enviou ao presidente da Caixa, Jorge Mattoso. Alegou tratar-se de documentos sigilosos e sem interesse público.

Apesar das restrições, Levy afirmou que as críticas e as questões tratadas nas correspondências são "estratégias corporativas" e o banco tem "desafios muito grandes". "Até 2000, a Caixa atuava como repartição política e nem mesmo publicava balanço", disse Levy. "Muitos dos temas tratados nas cartas estão sendo resolvidos. A cobrança de crédito tem melhorado e o setor de avaliação de crédito tem sido fortalecido."

O presidente do Conselho de Administração também afirmou que o relacionamento com a fiscalização do Banco Central tem sido a melhor possível. "Fizemos uma reunião com a Supervisão Bancária do BC nos últimos dias e tivemos uma resposta muito boa dos avanços conquistados", garantiu.

A Caixa tem procurado melhorar sua gestão e cumprir as determinações da Supervisão Bancária do BC. Posso dizer que o presidente Mattoso tem feito um trabalho sério e que o banco está sólido e dando lucro."

Segundo o presidente do Conselho de Administração, quase todos os problemas apontados por ele na carta de 2 de junho já foram sanados. "Quase 100% do que foi dito ali já está a caminho de ser resolvido", garantiu.

Assim como a Caixa e Levy, oficialmente o Banco Central procurou reduzir a importância do caso. Apesar de os técnicos do Banco Central aguardarem com grande expectativa a auditoria que começa em março, a instituição manifestou-se de forma cautelosa.

"Os trabalhos de supervisão bancária do Banco Central em curso na Caixa Econômica Federal são de rotina. O plano da Caixa de atendimento às recomendações feitas pelo Banco Central vem sendo implementado pela instituição e acompanhado pelo BC", afirmou a assessoria de imprensa do BC, por meio de nota.