Título: Juro nos EUA é principal destaque
Autor: Tom Morooka
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/03/2006, Economia & Negócios, p. B4

Sem indicadores de destaque internamente, o mercado financeiro vai dedicar maior atenção a eventos e dados que serão divulgados nos EUA, sem baixar a guarda diante de eventuais desdobramentos da crise política que tem como foco o ministro Antonio Palocci. "O mercado deve permanecer em compasso de espera nesta semana de indicadores cruciais no exterior", avalia Flávio Farah, vice-presidente de Tesouraria do banco WestLB do Brasil.

O evento de destaque nos EUA é a reunião do Comitê de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve (Fed, banco central americano), que, segundo prognóstico geral, vai definir amanhã nova alta de 0,25 ponto porcentual no juro básico, de 4,50% para 4,75% ao ano. A expectativa com a decisão do Fed, no primeiro encontro comandado por Ben Bernanke, ficou fortalecida pelos dados mais fortes da economia americana divulgados recentemente e pelo realinhamento dos juros dos títulos de dez anos do Tesouro dos EUA em nível mais elevado.

"O juro deve subir 0,25 ponto, mas o grande interesse do mercado estará voltado à possível mensagem implícita no comunicado, a ser emitido pelo Fed, sobre a continuidade ou não da política de alta das taxas de juro", diz Farah. O mercado não disfarça o temor de que uma perspectiva de altas mais prolongadas dos juros americanos, na esteira também do recente aceno do Japão de mudanças na política monetária, desestimule o fluxo de entrada ou encoraje a saída de divisas de mercados como o brasileiro. Uma movimentação que poderia dar sustentação às cotações do dólar e provocar desvalorização das ações domésticas.

Outros dados que podem influenciar os mercados, segundo o executivo do WestLB, são o indicador de confiança do consumidor americano de março, que será conhecido amanhã, e o PIB fechado dos EUA do quarto trimestre, na quinta-feira.

O sentimento de que a inflação interna está sob controle, reforçado pelos dados mais recentes de variação dos preços, desvia a atenção do investidor para o cenário político na semana de fraca agenda de indicadores econômicos. O principal dado de inflação é o IGP-M de março, que será divulgado na sexta-feira e, segundo Farah, deverá apontar uma deflação (variação negativa) de 0,15%.

Uma fator que tende a continuar provocando desconforto no mercado financeiro é a crise que atinge Palocci. Às incertezas sobre a permanência do ministro, bastante respeitado pelo mercado, se somam dúvidas sobre o substituto em caso de sua eventual saída.