Título: Exportação de serviços empresariais cresceu 34%
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2006, Economia & Negócios, p. B6

Vendas desse grupo, que representa 40% do setor, somaram US$ 6 bilhões em 2005

Um grupo de serviços exportados pelo Brasil cresceu de forma expressiva e bateu recorde em 2005. Trata-se das vendas de serviços empresariais, profissionais e técnicos ao exterior, que alcançaram US$ 6 bilhões ano passado, 34% acima de 2004 e mais que o dobro de 1999, quando houve forte desvalorização cambial. As atividades incluem desde projetos de engenharia e trabalho de profissionais liberais até a venda de jogadores de futebol para clubes estrangeiros.

Este grupo representa quase 40% de toda a exportação brasileira de serviços, que somou US$ 16 bilhões ano passado. Mas, ao contrário da pauta de serviços - tradicionalmente deficitária - o segmento vem registrando superávit crescente nos últimos anos. O saldo também bateu recorde ano passado: somou US$ 3,7 bilhões em 2005, com base nas estatísticas do Banco Central (BC), US$ 1 bilhão acima do valor em 2004.

O grupo é formado pelas seguintes atividades, conforme nomenclatura do BC: serviços de arquitetura, engenharia e outros técnicos (vendas de US$ 3,372 bilhões); manutenção de escritórios e aluguel de imóveis (US$ 1,9 bilhão); honorários de profissionais liberais (US$ 455,5 milhões), passe de atletas (US$ 158,2 milhões), publicidade (US$ 115,7 milhões); além de encomendas postais, participação em feiras e exposições e projetos técnico-econômicos.

"Este crescimento é importante e não pode ser desprezado, mas parte de uma base muito pequena ainda", pondera a economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Lia Valls. Ela explica que, de forma geral, a venda de trabalhos de consultoria e projetos entre países cresce no mundo todo.

Um dos motivos é o avanço das telecomunicações: já não é preciso, em muitos casos, estar ao lado do cliente para vender o serviço. Além disso, o câmbio desvalorizado desde 1999 deu maior competitividade às vendas brasileiras.

"A facilidade de transmissão de dados internacional é que está revolucionando o mundo", comenta o designer Guto Índio da Costa, cuja empresa, especializada em desenho para produtos industriais, desenvolveu projetos recentes para a GE no México e a francesa Legrand.

"Atendemos muita gente de fora, temos uma série de clientes no exterior. Isso tem crescido, como parte da inserção do Brasil no mundo", diz o advogado Plínio Barbosa, sócio do escritório Barbosa, Müssnich&Aragão.

CRIATIVIDADE

Conta a favor, ainda, a criatividade brasileira. É o que explica Márcio Beuclair, diretor de estratégia da Ana Couto Branding & Design, que presta consultoria na área de marcas.

A empresa brasileira desenvolveu um trabalho de criação de embalagem para o suco Minute Maid para a operação mexicana da Coca-Cola. "É talento mesmo. Existem várias empresas que fazem o mesmo serviço. Essa é a diferença", explica o diretor.

A economista da FGV comenta que os dados publicados pelo BC "não permitem analisar quais os serviços oferecidos pelos profissionais brasileiros", informação que ela considera importante para identificar oportunidades de mercado para o País. A abertura dos dados do banco se limita a oito categorias, sem detalhamento dos dados.

Sabe-se, contudo, que no item de profissionais liberais, que apresentou crescimento de exportações de 578% sobre 2004, aparecem serviços jurídicos, de contabilidade, assessoria em relações públicas, entre outros.

Já o crescimento nas vendas de trabalhos de engenharia, arquitetura e outros serviços técnicos, segmento de maior peso, foi de 34%. Aqui, aparecem projetos de engenharia que compõem obra feitas no exterior por empresas como Odebrecht e Andrade Gutierrez.

Apenas o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mantém uma carteira de financiamentos que pode chegar a US$ 3 bilhões para obras no exterior. A lista de projetos já contratados soma US$ 1 bilhão e inclui a ampliação do metrô de Santiago, um gasoduto na Argentina, uma hidrelétrica na Venezuela, uma rodovia no Paraguai.

Obras de mais de um ano de duração executadas por firmas abertas pelas empresas brasileiras no exterior são computadas como investimento direto no estrangeiro.

Na parte de vendas de serviços técnicos, a Ccaps, especializada em tradução e adaptação de software para a linguagem de outros países, já tem 80% das receitas em exportações para clientes no exterior. A empresa tem estrutura enxuta - trabalha com 10 empregados diretos e 50 colaboradores para as traduções - e atende outras firmas de software no exterior, além de outros setores, num total de 30 clientes.

"Nossos clientes lá fora pedem tradução do inglês para o português quando querem entrar no mercado brasileiro", exemplifica o diretor-geral da Ccaps, Fabiano Cid. Para se ter idéia do volume de trabalho da empresa, são 10 milhões de palavras traduzidas ao ano - o equivalente a 28 mil palavras ao dia, levando em conta os 365 dias do ano.

Mas, como os exportadores de produtos, os vendedores de serviço ao exterior também reclamam do dólar baixo. Cid explica que a empresa teve de se adaptar ao real valorizado. "Fomos prejudicados pelo câmbio, como qualquer exportador", argumenta o executivo.