Título: Acaba prazo para general se explicar
Autor: Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2006, Nacional, p. A5

Comandante do Exército pressionou DAC para interromper decolagem de vôo da TAM e entrar no avião

Apesar do surgimento de documentos, divulgados ontem pelo Estado, confirmando que o comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, fez pressão sobre o Departamento de Aviação Civil (DAC) para interromper a decolagem de um avião da TAM de Campinas para Brasília, o Centro de Comunicação Social do Exército se limitou ontem a reafirmar que reitera os termos da nota à imprensa divulgada no dia 7. Na nota, o Exército diz que seu comandante cumpriu os prazos previstos pela companhia aérea e, ao receber sua bagagem etiquetada de volta, com a informação da falta de vagas no avião, "agiu como qualquer cidadão ao sentir-se prejudicado após cumprir todas as exigências legais".

Hoje acaba o prazo para Albuquerque apresentar defesa na Comissão de Ética Pública, onde o caso está sendo investigado. O Centro de Comunicação Social do Exército garantiu que o general vai apresentar suas explicações a tempo. Parlamentares procurados pela reportagem disseram que o episódio é negativo para o Exército e o general precisa se desculpar pelo que aconteceu.

O presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, Roberto Saturnino Braga (PT-RJ), afirmou que, embora se trate de um "incidente" sobre o qual não se deve fazer "tempestade em copo d'água", é "evidente que o general errou, não devia ter feito isso".

"A nota divulgada pelo Exército evidentemente falta com a verdade", disse Saturnino. "Isso não é bom. Não fica bem nem para instituição nem para o general. Ele tem de dizer que errou e encerrar esse episódio." O senador também criticou a empresa aérea TAM pelo fato de ter deixado passageiros sem embarcar por conta da lotação. "Esse negócio de overbooking é um absurdo. Há uma culpa muito grande da empresa que tem sido deixada de lado."

Para o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), a reportagem publicada pelo Estado deixa claro que houve, por parte do general, "utilização indevida do cargo" para embarcar no Aeroporto de Viracopos, no dia 1º. "O que o Comandante do Exército tem de fazer é se desculpar, dizer que cometeu um erro e que isso não se repetirá", afirmou.

PRIMEIRA CLASSE

O parlamentar contestou a nota do Exército, segundo a qual Albuquerque agiu como qualquer cidadão ao sentir-se prejudicado pelo overbooking. "Se ele fez reclamação como qualquer cidadão, teve resposta de passageiro de primeira classe. Pois essas reclamações são feitas normalmente pelas pessoas sem que soluções sejam encontradas tão rapidamente", disse Rodrigo Maia.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), também membro da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, avalia que Albuquerque precisa prestar um esclarecimento mais adequado do que foi dado até agora. "Fica sempre complicado quando há registros dessa natureza, em que uma autoridade se impõe dessa forma. Ele precisa dar esclarecimentos mais adequados, pois o que foi feito até agora é insuficiente", afirmou o senador tucano.