Título: Serra anuncia candidatura na quinta
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2006, Nacional, p. A16

O prefeito José Serra anunciará quinta-feira, véspera da data-limite para a desincompatibilização, sua candidatura ao governo do Estado; hoje, o governador Aécio Neves (MG) declara, em Belo Horizonte, que concorrerá à reeleição. Os dois sofreram intensa pressão nos últimos dias para ser candidatos nos dois principais Estados. O PSDB pretende escalar "o time principal" para as eleições de outubro, como forma de apresentar palanques estaduais fortes para apoiar o pré-candidato à Presidência, Geraldo Alckmin.

A estratégia pode levar o presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE), a se candidatar ao governo do Ceará, onde o atual governador Lúcio Alcântara, mal nas pesquisas, é ameaçado pelo irmão do ministro Ciro Gomes, Cid Gomes. Nos Estados em que não tem candidaturas viáveis, o PSDB busca se aproximar do PMDB. Um exemplo disso é o Rio de Janeiro, onde já existe um pré-acordo com o senador Sérgio Cabral Filho, candidato do partido ao governo estadual. Amigo pessoal de Aécio, ele já prometeu apoio a Alckmin ainda no primeiro turno.

Essa conversa não aconteceu à revelia do pré-candidato presidencial Anthony Garotinho; pelo contrário, o ex-governador fluminense também já conversou com Alckmin e se mostrou favorável ao acordo se sua candidatura presidencial - abalada pela decisão do Supremo Tribunal Federal de manter o princípio da verticalização para as eleições deste ano - não se concretizar.

Nos últimos dias, pelo menos dois integrantes do triunvirato que coordenou a escolha do nome tucano para disputar a Presidência - o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador Aécio Neves - disseram a amigos que a candidatura de Serra está resolvida. "Pode cravar", adiantou ontem ao Estado um auxiliar-chave do prefeito de São Paulo. Na estratégia do PSDB, a candidatura de Serra a governador significa que o partido larga como favorito ao governo que detém há 12 anos e Alckmin terá um palanque forte no Estado.

Mas a estratégia não termina aí. Está praticamente acertado o lançamento do ex-governador Orestes Quércia ao Senado, seja em aliança oficializada - no caso de não haver candidato presidencial do PMDB -, seja em aliança informal, se o partido decidir disputar o Planalto (nesse caso, o PSDB simplesmente não lançaria nome para concorrer ao Senado em São Paulo). Acordo semelhante já está concretizado em Pernambuco, onde o atual governador Jarbas Vasconcelos sairá para concorrer ao Senado e terá, como candidato à sua sucessão o atual vice, Mendonça Filho, que é do PFL.

APELO

O governador Aécio Neves sonhava ser candidato a senador e, de lá, liderar uma reforma tributária e a revitalização do pacto federativo. Mas cedeu à enxurrada de pressões que desabou sobre seu gabinete nos últimos dias e está reavaliando suas reservas sobre os ônus da reeleição. Depois de receber um abaixo-assinado de 747 dos 853 prefeitos mineiros pedindo que ele concorresse, ontem ele ouviu o mesmo apelo, feito ao vivo por 19 prefeitos do PT.

Sexta-feira, ao chegar de uma viagem ao interior, Aécio foi surpreendido pela visita dos principais dirigentes patronais de Minas, que foram cobrar sua candidatura. No fim de semana ele conversou com a família e a filha Gabriela sobre o assunto; ontem, no fim do dia, deu sinais de que cederia às pressões.

Na Bahia, os problemas entre o PFL do senador Antonio Carlos Magalhães e o PSDB do líder tucano na Câmara, Jutahy Júnior, estão contornados, mas a eleição do senador Paulo Souto não é tão garantida se o prefeito de Salvador, João Henrique (PDT), resolver concorrer. No Rio Grande do Sul, o PSDB tenta fechar um acordo com o governador Germano Rigotto, que ainda tem dúvidas sobre a candidatura à reeleição ou ao Senado, mas não descarta uma aproximação com o PDT.