Título: Prevendo embate, presidente quer manter ministros
Autor: João Domingos e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2006, Nacional, p. A10

Diante do enfraquecimento do governo com a saída de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está pedindo a alguns ministros que permaneçam no cargo. Ele quer que eles abram mão de disputar as eleições de outubro.

Entre os ministros que Lula quer manter ao seu lado encontram-se Jaques Wagner (Relações Institucionais), Marina Silva (Meio Ambiente), Paulo Bernardo (Planejamento) e Walfrido Mares Guia (Turismo).

Lula terá de consumar uma reforma ministerial até sexta-feira, prazo legal para que deixem o governo os ministros interessados em concorrer nas próximas eleições. Agora o presidente pretende manter no primeiro escalão o máximo possível de nomes considerados fortes, para o duro embate com a oposição que está sendo previsto para a campanha eleitoral.

DEFESA

O vice-presidente José Alencar deve continuar à frente do Ministério da Defesa, mas por um motivo distinto. O nome de Tarso Genro, ex-ministro da Educação e ex-presidente do PT, é cotado para o posto, mas sabe-se que ele tem pouca intimidade com os oficiais-generais da Aeronáutica, Exército e Marinha. É um ponto negativo e o presidente Lula já tem experiência a esse respeito.

Seu primeiro ministro da Defesa foi o embaixador José Viegas. Sem conhecer os militares, sofreu um bombardeio interno durante todo o tempo em que ficou à frente da pasta.

Para o lugar do ministro da Saúde, Saraiva Felipe, os dirigentes do PMDB pró-governo (o presidente do Senado, Renan Calheiros, o líder do partido no Senado, Ney Suassuna, e o ex-presidente José Sarney) já escolheram o presidente da Fundação Nacional da Saúde (Funasa), Paulo Lustosa. Seria uma forma de compensar Lustosa que, ao ser escolhido para a presidência da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), sofreu um boicote por parte do ministro das Comunicações, Hélio Costa (também do PMDB, com permanência garantida no cargo), e não pôde assumir o posto.

CONVERSA

Outro colaborador direto que deve continuar no governo, de acordo com informações do Planalto, é o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, que no governo de Lula recebeu o status de ministro. Ele teve uma conversa ontem com Lula e deixou claro que gostaria de continuar exercendo a função. Hoje ele deverá conversar mais longamente com o novo ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Meirelles não se filiou a nenhum partido. Por causa disso, se for dispensado agora, não terá como concorrer a qualquer cargo em outubro. Quando Lula o convidou para ocupar a presidência do BC, ele era deputado federal pelo PSDB, pelo Estado de Goiás. Renunciou ao mandato pelo cargo no banco.

O chefe da pasta dos Transportes, Alfredo Nascimento, está decidido a deixar o cargo para se candidatar à vaga de senador pelo PL do Amazonas. Para seu lugar o partido quer levar o senador João Ribeiro (TO).

Mas não será uma escolha fácil, pois o nome de Ribeiro pode sofrer algum tipo de veto e até criar polêmica entre o governo e representantes da Igreja e de movimentos sociais, pois o Ministério do Trabalho já acusou o o senador de estar envolvido com trabalhadores mantidos em condição análoga à escravidão.

No Ministério dos Esportes, o PC do B escolheu Orlando da Silva Júnior para suceder Agnelo Queiroz, que está deixando o governo para se candidatar ao governo do Distrito Federal.