Título: Dança da pizza pode derrubar deputada
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2006, Nacional, p. A11

Além do risco de responder a uma ação na Corregedoria da Câmara, a deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) enfrentou ontem a ira dos colegas do Conselho de Ética. Até o presidente do colegiado, Ricardo Izar (PTB-SP), defendeu o afastamento da petista, por ela ter sambado no plenário da Câmara para comemorar a absolvição do petista João Magno (MG). A deputada se defendeu com um discurso no plenário, dizendo-se vítima de "massacre", "linchamento", "intolerância" e "preconceito".

"A mídia quis me vilipendiar, ao me mostrar como a dançarina da pizza ou a sacerdotisa da imoralidade", protestou Ângela, completando que sua trajetória de luta pela Justiça e pelo bem-estar da população não foi levada em conta. "Vinte segundos apagaram mais de 30 anos de vida política."

A deputada afirmou, ainda, que está sendo vítima de preconceito. "Posso ser gorda, não pinto os meus cabelos, sou do PT. Se seguisse o padrão de beleza da propaganda, teria sido diferente. Caso eu fosse um homem, teria sido irrelevante", discursou ela, da tribuna.

Ângela disse que não faltou com a ética e pretende continuar no conselho. Ontem, ela foi notificada pelo corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), para se manifestar. Magno interrompeu a deputada para elogiar a sua coragem de "fazer valer o equilíbrio nas votações dos processos". No conselho, a deputada é conhecida por defender os petistas acusados.

Já o deputado Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP) interrompeu o discurso para criticá-la: "Não há outra forma de a opinião pública entender, nem a mídia, que não foi a dança do escárnio." Deputados do conselho consideraram que a petista comemorou uma derrota do colegiado do qual ela faz parte e, por isso, deve ser afastada.

"A presença dela é constrangedora", alfinetou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG). "Se ela dança, eu danço", provocou ele, citando um hit da moda, de autoria de MC Leozinho.

A deputada deixou ontem a reunião do Conselho de Ética antes do fim da leitura do parecer do deputado Mendes Thame (PSDB-SP), que recomendou a cassação do mandato do deputado Josias Gomes (PT-BA). Em seu lugar, a deputada Neyde Aparecida (PT-GO) pediu o tempo regimental de duas sessões para analisar o processo, adiando a votação para a próxima terça-feira.

Gomes é acusado de ter retirado R$ 100 mil da conta da SMPB publicidade, de propriedade do empresário Marcos Valério, na agência do Banco Rural em Brasília. Ao sacar o dinheiro, Gomes deixou como documento uma cópia de sua carteira parlamentar.