Título: A ordem geral é 'esperar para ver'
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2006, Economia & Negócios, p. B4

A reação inicial dos investidores à troca do comando no Ministério da Fazenda, visível ontem na pequena alta dos juros e em modestas oscilações para pior de outros indicadores de risco, foi mais suave do que avaliações feitas em conferências telefônicas por bancos de investimentos. Segundo analistas que participaram dessas conversas, a saída de cena de Antonio Palocci e a entrada de Guido Mantega deixaram uma forte apreensão entre investidores.

"Assistimos a um desenlace de fatos muito importantes, complicados e delicados para o governo, que criam incerteza sobre a condução da política macroeconômica", disse o economista Paulo Leme, estrategista do banco de investimentos Goldman Sachs para a América Latina, em Miami. Para ele, a atitude de "esperar para ver" dos investidores reflete o capital de credibilidade internacional que política econômica acumulou, os bons fundamentos da economia e a atratividade dos juros que o País paga para refinanciar a dívida pública num mercado com grande liquidez. Se a apreensão se traduzirá ou não em perda da confiança dependerá das ações do novo ministro.

"Os investidores olharam para três coisas", disse Leme. "Primeiro, as nomeações que ele fará para os cargos de secretário-executivo e secretário e vice-secretário do Tesouro, pois mostrarão sua capacidade de atrair e recrutar pessoas de alto calibre", afirmou. "Outro fator é a disposição e a capacidade de Mantega de peitar as pressões para aumentar gastos e preservar a disciplina fiscal" nos embates para aprovação da nova proposta do orçamento federal.

O estrategista quer saber também o que significa incluir uma "política desenvolvimentista" no manejo da Fazenda, como Mantega disse que fará, em entrevista ontem ao programa Bom Dia Brasil. "É um bordão para agradar aos eleitores ou é uma reorientação da política econômica para atender à ministra Dilma Rousseff?".

"Dado o alto nível de endividamento do Brasil e o modesto histórico de crescimento do PIB, qualquer relaxamento das metas fiscais emitiria o sinal errado, colocaria a relação dívida/PIB em trajetória ascendente e poderia causar dificuldades para o governo nos leilões de papéis da dívida interna", alertou , na mesma linha, Roger Scher, diretor-gerente de América Latina da Fitch Ratings.