Título: MST estende 2006 vermelho a todo o País
Autor: Elder Ogliari
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2006, Nacional, p. A15

Onda de invasões iniciada em Pernambuco atingirá 23 Estados onde movimento atua

A onda de invasões que o Movimento dos Sem-Terra (MST) iniciou em Pernambuco no fim de semana, com a ocupação de 15 propriedades, no chamado 2006 Vermelho, vai se estender aos 23 Estados onde a organização atua, nos meses de março e abril. A informação foi divulgada ontem pelo porta-voz da coordenação nacional do movimento, João Paulo Rodrigues. De acordo com suas explicações, o objetivo da nova onda de invasões é pressionar o governo para que acelere o processo de reforma agrária. "O governo Lula poderia ter dado um salto de qualidade e avançado na reforma agrária sem que houvesse essas invasões", afirmou.

O anúncio do MST foi feito em Porto Alegre, onde está sendo realizada a Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, promovida pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Rodrigues explicou que atualmente existem 120 mil pessoas em 650 acampamentos do MST espalhados pelo País. O objetivo é mobilizar essas pessoas em ações que chamem a atenção para a lentidão da reforma.

Ainda de acordo com o líder do MST, as manifestações serão pacíficas. "Não queremos incidentes e violência porque temos claro que isso não beneficia a reforma agrária", disse.

Amostra desse espírito foi dada ontem, quando 35 integrantes estrangeiros da Via Campesina se dirigiram à Fazenda Coqueiros, ocupado pelo MST, para uma demonstração de solidariedade. Impedido de entrar, o grupo não reagiu.

ELDORADO

As ações serão concentradas em março e abril porque é nesse período que se relembra o massacre de Eldorado de Carajás (PA), que completará 10 anos em 17 de abril. O MST também quer agir antes de o País entrar em clima de Copa do Mundo e de campanha eleitoral.

Ontem, quando questionado se não era possível classificar de violência o fato de os sem-terra usarem madeira de áreas invadidas para construção de casas, como ocorreu na Fazenda Coqueiros, Rodrigues preferiu passar a palavra ao presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o bispo d. Tomás Balduíno. "Na doutrina de São Tomás de Aquino, quando a necessidade é premente os bens são comuns", respondeu o bispo.