Título: França tem 258 protestos em 1 dia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2006, Internacional, p. A18

Ruas e praças de Paris e de outras cidades da França voltaram ontem a ser ocupadas por manifestantes contrários ao Contrato Primeiro Emprego (CPE) - lei que reduz direitos trabalhistas por dois anos para estimular as empresas a admitir jovens menores de 26 anos. Ao todo, foram 258 manifestações em várias partes do país, segundo dados do ministério do Interior. Os 12 sindicatos e entidades estudantis - que rejeitaram os ajustes prometidos pelo presidente Jacques Chirac na lei - estimam que cerca de 3 milhões participaram dos protestos em todo o país, enquanto cálculos da polícia são bem mais modestos, cerca de 1 milhão.

As marchas terminaram em cenas de violência. Os chamados "quebradores" - jovens de subúrbios pobres que nada têm a ver com o movimento - atiraram pedras e outros objetos nos policiais que reagiram.

Na Praça Itália, em Paris, nove ativistas ficaram feridos. Houve confrontos também em Rennes, Rouen e Lille. Mais de 200 foram detidos em todo o país - a maioria por suspeita de vandalismo e interceptada por agentes à paisana antes do início da manifestação. "Foi um êxito tão grande quanto o do dia 28", exultou um sindicalista. Mas, ao contrário daquela terça-feira, a greve nacional decretada pelos sindicatos não chegou ontem a ser tão abrangente. No sistema de transportes, praticamente não houve paralisações significativas.

Em meio a esse quadro, o primeiro-ministro Dominique de Villepin, autor da lei e cuja popularidade está em queda livre (ler ao lado), disse que sua prioridade é encontrar uma saída para a crise.

Numa acalorada discussão no Parlamento controlado pelo governo, um deputado socialista, Jean-Marc Ayrault, ficou indignado ao ser ignorado pelo plenário quando tentava propor uma solução. "Não sei o que estou fazendo aqui."

A saída para a crise depende da bancada conservadora do governo, que é majoritária. Mas ela mesma está dividida em duas correntes, com visões diferenciadas sobre o CPE: a ala de Villepin (autor da lei) e os partidários do ministro do Interior, Nicolas Sarkozy (críticos do CPE). Ambos, Villepin e Sarkozy, disputam a candidatura conservadora à presidência da república. O presidente Jacques Chirac apóia Villepin. Contudo, mexeu no texto da lei do afilhado político e deu munição para Sarkozy. O presidente atenuou os dois artigos mais polêmicos: o que estabelecia um período de teste de dois anos para o funcionário contratado pelo sistema; e o que autorizava o empregador a demitir sem justificativas encerrado aquele período.

Chirac reduziu para um ano período de experiência e tornou obrigatória explicação por parte do empregador no caso de dispensa do funcionário. O presidente sancionou o texto original, porém pediu a Villepin que introduzisse as modificações num novo projeto a ser enviado ao Parlamento. Estudantes e sindicatos classificaram a modificação de um "seis por meia dúzia". Mas Sarkozy que vinha pedindo negociação incondicional entre as partes definiu como "sábia" a intervenção do presidente. A nova lei tramitará no plenário em regime de urgência. O deputado Bernard Accoyer, líder governista, disse que pretende fazer hoje um reexame acurado do projeto. E, para tanto, convidou estudantes e sindicatos.