Título: Pelo Correio, 50 escorpiões
Autor: Herton Escobar
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2006, Vida&, p. A21

O Ibama apreendeu ontem um carregamento de mais de 50 escorpiões que seriam enviados pelo correio de São Paulo para a Suíça. É a terceira interceptação de tráfico internacional de aracnídeos no Estado nos últimos 15 dias. Nas duas ações anteriores, foram apreendidas mais de 200 aranhas em correspondências entre Brasil e Alemanha. Autoridades suspeitam de tráfico de animais possivelmente associado à biopirataria.

Em todos os casos, os animais estavam acondicionados dentro de tubinhos plásticos de filme fotográfico. Os escorpiões, de pelo menos duas espécies, foram postados em uma agência dos Correios de Belo Horizonte e apreendidos no centro de triagem do Jaguaré, em São Paulo, por meio de raio X. O documento alfandegário preenchido pelo remetente identificava o conteúdo como "lembranças". Dentro do envelope, um bilhete escrito em inglês descrevia a carga como "aracnídeos para estudos científicos" e fazia a observação "não Cites", em referência à Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (Cites, em inglês).

"É um claro exemplo dos próprios brasileiros contribuindo para a apropriação do nosso patrimônio genético", disse Paulo Aredes, chefe substituto de Fiscalização do Ibama em São Paulo. As apreensões, segundo ele, fazem parte de uma parceria com os Correios para combater o tráfico de animais e a biopirataria. Animais venenosos, como aranhas, sapos, cobras e escorpiões, são cobiçados no mercado negro científico para o estudo de princípios ativos para novas drogas - ou simplesmente para a venda em pet shops.

O remetente dos escorpiões, segundo Aredes, é fictício. Os detalhes são mantidos em sigilo para não prejudicar as investigações, que serão feitas com apoio da Polícia Federal e da Interpol. As aranhas também foram postadas numa agência da Grande Belo Horizonte e interceptadas no Jaguaré.

Uma das correspondências, com espécies nativas do Brasil, estava endereçada a um destinatário na Alemanha. A outra, com espécies exóticas da África e Ásia, fazia o caminho inverso, vinda da Alemanha para um estudante de biologia de Adamantina, que foi autuado por crime ambiental. "Parece ser uma troca de amostras", avalia Aredes.

Os animais apreendidos foram enviados ao Instituto Butantã para identificação.