Título: Rio Madeira sobe e inunda duas cidades
Autor: Herton Escobar
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2006, Vida&, p. A34

Aulas são suspensas para proteger as crianças de cobras e jacarés

Dois municípios do Amazonas já estão sofrendo prejuízos com a cheia do Rio Madeira: Humaitá, a 600 quilômetros de Manaus, e Manicoré, a 681 quilômetros. A Defesa Civil do Estado informou que escolas dos dois municípios tiveram de fechar as portas por causa da subida do nível do rio, deixando cerca de 2 mil crianças sem aulas nos últimos 15 dias.

Na última medição, na quarta-feira, o nível do rio estava em 25,55 metros, só 4 centímetros abaixo da cota de emergência, que é de 25,59 metros.

De acordo com o engenheiro hidrólogo do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Daniel Oliveira, o Madeira é o que mais preocupa entre todos os rios monitorados da Amazônia Ocidental. "Os outros estão subindo o esperado, mas o Madeira está muito rápido."

A maior cheia do Madeira ocorreu em 1997, 30 anos após o começo das medições. Em abril daquele ano, o rio atingiu 27,26 metros.

Tradicionalmente, o CPRM divulga só no fim de março seu primeiro alerta para a situação dos rios, pelo menos 75 dias antes da época do pico da cheia, em junho. "Temos 70% de acerto, e podemos confirmar que, normalmente, depois de grandes secas, como a do ano passado, vêm enchentes sem grandes problemas."

JACARÉS E COBRAS

O prefeito de Humaitá, Roberto Rui Guerra, disse que há duas semanas a população está vivendo em estado de alerta. "Aqui sofremos muito com ataques de jacarés e cobras. Na época da cheia é pior."

Para garantir a segurança das crianças, tanto no caminho para a escolas, em canoas, quanto ao brincarem no recreio em frente do rio, 40 das 107 escolas da área rural foram fechadas há 15 dias.

De acordo com o prefeito, 45 famílias perderam suas casas, construídas na beira do rio. "A água cobriu algumas e está com água pela janela em outras. Mas até agora está tudo sob controle, os desabrigados já foram alojados", disse.

"E os que têm casa flutuante estão com medo dos jacarés e cobras e se abrigam em casas de parentes", contou o prefeito.