Título: Petrobrás quer parcerias na Bolívia
Autor: Raquel Massote e Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2006, Economia & Negócios, p. B6

O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, reafirmou ontem que a estatal continua firme no propósito de ser produtora de petróleo e gás na Bolívia e não prestadora de serviços. "A estratégia da companhia é de ser produtora de petróleo e gás e estamos dispostos a fazer todas as parcerias necessárias para isso", disse em Belo Horizonte, onde participa da 47ª Reunião Anual das Assembléias de Governadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O que era para ser uma palestra a investidores estrangeiros acabou se transformando numa apresentação em português e em uma entrevista.

O executivo observou que a Petrobrás produz e processa petróleo e gás, não havendo interesse pela prestação de serviços. No México, explicou, "foi a forma de entrarmos naquele mercado, que nos interessa". O México não permite exploração de petróleo e gás por empresas estrangeiras.

O contrato de importação de gás natural do Brasil com a Bolívia, disse Gabrielli, tem uma regra de reajuste baseada numa cesta internacional do produto, que se aplica para o volume de até 24 milhões de metros cúbicos por dia. Hoje, a estatal traz 27 milhões de metros cúbicos diários e aceita negociar a fórmula de determinação do preço do volume adicional.

Na terça-feira, o presidente boliviano, Evo Morales, reiterou que a intenção do governo é aproveitar o máximo possível dos recursos naturais do país para melhorar as condições de vida do povo. Para isso, afirmou, o gás tem de ser público.

A Petrobrás mantém seus planos de aumentar a presença na Bolívia, afirmou Gabrielli, e para isso tenta acelerar a negociação com o governo. A comissão de negociadores deve incluir executivos da brasileira e representantes da Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPFB) e do Ministério de Hidrocarbonetos, em reunião nos próximos 10 dias.

O objetivo do governo boliviano é transferir para a estatal YPFB o controle dos campos de petróleo e gás do país. A determinação implica a nacionalização das reservas que estão nas mãos de multinacionais. Um novo modelo contratual que reserva às atuais concessionárias o papel de operadoras de poços está em gestação no Ministério dos Hidrocarbonetos.

Sobre a posição de Morales, de ter sócios na exploração dos recursos naturais e não patrões, Gabrielli afirmou: "Eu também disse ao presidente Morales, quando ele esteve aqui, a mesma frase. Nós também queremos ser sócios da Bolívia e sócios da YPFB."

O ministro da Economia da Bolívia, Luis Alberto Arce Catacora, minimizou o impacto da decisão. "Temos recebido boas notícias da predisposição por parte das petroleiras de migrar de forma muito tranqüila. Porque, quando há um bom negócio, tem que beneficiar todos."

VENEZUELA

Sobre as mudanças no setor de petróleo da Venezuela - o presidente Hugo Chávez determinou que campos operados independentemente tenham contratos alterados para criar joint ventures em que a PDVSA tenha ao menos 60% de participação -, Gabrielli disse que, considerando o conjunto dos 14 negócios que a estatal tem no país, não haverá prejuízos.