Título: Coroados perde a esperança
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2006, Economia & Negócios, p. B1,4

A crise no campo atingiu em cheio o município de Coroados, cuja economia se fundamenta na produção de grãos, especialmente, soja e milho. Os fazendeiros afirmam que esta é a pior crise de todos os tempos e reclamam dos altos custos de produção, do câmbio e dos preços finais. Na cidade, a inadimplência do comércio aumentou entre 30% e 50% e a administração municipal prevê queda de 40% na receita.

"Gastamos R$ 27,50 para produzir uma saca de soja que será vendida a R$ 22,50. O custo do milho é de R$ 17, para um preço de R$ 11", conta Roberto Frare, presidente da associação que congrega 93 produtores rurais da região.

Os irmãos Jorge e José Eduardo Freitas já sabem que nesta safra vão ter prejuízo de R$ 50 mil, só com os custos de produção de 100 alqueires de soja. "Falta computar custos operacionais e de manutenção", diz Jorge. "Se não houver essa MP, não sei que vamos fazer. Eles tiveram de vender um sítio de cinco alqueires e um caminhão para manter em dia a securitização de safras da década de 90. Atualmente, eles plantam soja, milho e algodão, mas nenhuma das culturas vai dar lucro.

"Tudo o que a agricultura me deu desde criança, está me tirando. A sorte é que pude formar minhas filhas, mas já disse para o meu filho mais novo não tentar a sorte no campo", conta Augusto Pugina, 53 anos.

De acordo com Roberto Frare, 95% dos produtores estão endividados e 30% abandonaram o plantio depois do fracasso da safra do ano passado.

Na Mercearia Estrela, o comerciante Luiz Antônio Fagá chegava ontem do sítio de um cliente, onde foi receber uma dívida atrasada. "Tive de pegar umas galinhas, uns porcos e um saco de feijão em troca", diz.

Acostumado a vender para sitiantes e fazendeiros desde 1978, ele diz que o escambo se tornou comum desde o fracasso da safra no ano passado.