Título: Em três anos, a euforia gaúcha vira preocupação
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2006, Economia & Negócios, p. B1,4

Dois anos de estiagem (2004 e 2005), queda contínua da cotação do dólar e da soja levaram o município de Não-me-Toque, na região gaúcha do Alto Jacuí, a trocar a euforia de 2003, ano de safra cheia e preços de produtos agrícolas altos, pela apreensão de 2006. Sem dados oficiais, o prefeito Armando Carlos Roos (PP) calcula que 800 pessoas tenham perdido o emprego na indústria de máquinas agrícolas e no comércio local nos últimos dois anos e meio. Não é pouco para uma cidade de só 15 mil habitantes.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Não-me-Toque, Pedro Paulo Nienow, salienta que os filiados têm dívidas com a Cooperativa Mista Alto Jacuí (Cotrijal), onde adquirem sementes, insumos e outros itens para pagar na colheita. Duas quebras de safra, redução da cotação da soja e do dólar descapitalizaram o produtor. "A média de endividamento dos nossos filiados na Cotrijal está na base de R$ 7 mil."

A solução tem sido renegociar os débitos. Menos mal que poucos pegaram dinheiro emprestado dos bancos. "A base da agricultura aqui é familiar", explica o dirigente sindical.

O diretor de produção da Cotrijal, Gelson Lima, ressalta que não há produtor que não esteja endividado. "Seja pequeno, médio ou grande vai arcar, agora, que teve uma safra normal, com os prejuízos dos dois anos anteriores, quando a seca castigou todo mundo. Só escapou quem tem capital próprio."