Título: 'O crescimento eleitoral de Geraldo será lentíssimo'
Autor: Christiane Samarco e Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2006, Nacional, p. A10

O PSDB comemorou a denúncia do Ministério Público que atingiu em cheio o governo e o PT, mas nem por isto aposta em impeachment ou no crescimento rápido da candidatura de Geraldo Alckmin ao Palácio do Planalto. "O crescimento eleitoral do Geraldo vai ser lentíssimo porque será feito nas viagens pelo Brasil, no boca-a-boca", explica o presidente nacional do partido, senador Tasso Jereissati (CE), para quem as candidaturas só vão deslanchar com o início da propaganda eleitoral no rádio e na TV.

Para Tasso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é hoje "o símbolo da ascensão social que se desmorona de uma maneira horrorosa e provoca uma decepção gigantesca e dolorida na população". Neste quadro, o PSDB insiste em ampliar as alianças com os adversários de Lula, especialmente o PMDB.

Como Lula mantém bom desempenho nas pesquisas eleitorais a despeito das denúncias, Tasso faz a autocrítica do comportamento das oposições, que por um bom tempo atacaram o PT, mas pouparam a figura do presidente popular. "Fomos ultramoderados", admite em entrevista ao Estado.

O PSDB aposta que o Ministério Público processará o presidente por crime de responsabilidade?

A tendência é esta. No sistema presidencialista, o único responsável pelo governo é o presidente. O MP diz que se organizou uma quadrilha, a partir dos mais altos postos do governo e ministérios de maior confiança do presidente. Diz que dirigentes do PT, agindo em nome do governo, desviaram recursos públicos para manter um esquema criminoso.

Este esquema é mais grave do que o armado por Fernando Collor?

Não é só mais grave; é inédito. Foi organizado sistematicamente, a partir do mais alto posto abaixo do presidente da República, que é a Casa Civil. Envolveu organismos de governo, como o Banco do Brasil, e toda a direção do partido oficial do presidente. O tesoureiro PC Farias não tinha cargo no governo federal. A gravidade disso é que o coração do governo federal estava envolvido no esquema.

O senhor não teme que, aos olhos das classes D e E que apóiam Lula, a abertura de um processo contra o presidente possa soar como um golpe contra a reeleição?

Há setores da população em que esta verdade vai doer, porque o Lula foi um símbolo da ascensão social. É uma decepção gigantesca e dolorida para a sociedade ver o que está acontecendo com este símbolo, que se desmorona de uma maneira horrorosa. Apesar disso, Lula vem mantendo uma boa performance nas pesquisas eleitorais. Mas é dever das lideranças não esconder a verdade, em função de um receio de que ela possa machucar o eleitor.

Se o presidente for processado a oposição pedirá o impeachment?

Não. O processo legal, não tenho dúvida, vai levar fatalmente a isto. No entanto, também é claro para nós que ainda não existe clima político para que as oposições peçam o impeachment e também não existe tempo formal para isto.

Nesse caso, qual será a tática da oposição?

Nosso dever é levar a verdade à população, para que ela faça o maior e mais legítimo dos impeachments, através da eleição. Se estivéssemos no parlamentarismo já teria havido o impeachment. O ministério todo já teria caído com a queda do ministro da Fazenda.

Essa denúncia do MP leva a oposição a fazer uma autocrítica da atitude que teve em relação a Lula?

A oposição foi muito moderada. Talvez até pela própria cultura nossa de oposição, fomos ultramoderados.

Foi um erro?

No fundo, tivemos bastante responsabilidade. Não sei se foi um erro ou um acerto, mas ainda acho que acertamos quando quisemos manter a estabilidade. Era uma experiência histórica importante, um operário na Presidência representava muito para o País. É uma boa lição para o País ver que o PT, que se disse vestal e prometeu tanto, não pode ter tantas caras e facetas.

Valeu a pena?

Acho que eles ainda não aprenderam a lição. Tivemos o maior prurido e pudor quando a imprensa levantou vários casos envolvendo o filho do presidente Lula. No entanto, na primeira oportunidade e sem fundamento, eles não tiveram a menor cerimônia em fazer uma calúnia em cima do filho do nosso candidato. Nesse sentido é que nos arrependemos um pouco e avaliamos que deveríamos ter sido mais duros.

Vocês não temem que as acusações contra o filho de Geraldo Alckmin possam repercutir muito mal em sua imagem de candidato?

Não, porque não é verdade. Não existe erro em um garoto ser sócio da filha de um acupunturista em uma microempresa de produtos naturais. Existe erro, sim, do filho de um presidente receber de maneira duvidosa R$ 20 milhões. Em nenhum momento vamos nos furtar a discutir isto.

Mas o PSDB atua para evitar uma CPI na Assembléia paulista...

Se houver necessidade de uma CPI e ter um depoimento, que tenha. Mas, antes do constrangimento de levar um menino de 20 anos a uma CPI, vamos discutir. Não tem sentido ir à CPI por causa de uma microempresa que fatura R$ 5 mil mensais, não vende nada ao governo, não tem patrocínio nem financiamento do governo.

Mas as suspeitas já não são suficientes para abalar a imagem do candidato?

Não. Suspeita qualquer um pode levantar. Como o PT e todos os seus dirigentes estão na lama, como boa parte do governo, querem usar este artifício da suspeita para nos arrastar e igualar por baixo. Não é assim. Não podemos aceitar isto.

Por que o candidato decepcionou nesta arrancada da campanha?

Ele não decepcionou. Deixou o governo há dez dias sem ter exposição de televisão. O crescimento do Geraldo vai ser lentíssimo porque será feito durante as viagens, no boca-a-boca. Enquanto não começar o programa eleitoral na televisão, o crescimento será pequeno, gradual e consistente.

A indefinição do vice também não atrapalha?

Não é isso. Quem faz crescimento em pesquisa é a população, e o Geraldo ainda tem índices de desconhecimento muito grandes. Com ou sem vice, para a candidatura chegar nos lugares mais distantes do Brasil demora.

Quais são as dificuldades de aliança com o PFL?

Na maioria dos Estados está tudo acertado. A maior preocupação é a Bahia. Estamos trabalhando para montar um palanque comum porque temos o maior apreço e damos a maior importância à nossa aliança com o senador Antonio Carlos Magalhães.

Como estão as negociações com o PMDB?

Só após a decisão se o partido terá ou não candidato vamos avaliar qual será nossa conversa. Hoje, conversamos sobre os Estados.

As conversas com o PMDB indicam mais vantagens para o candidato do PSDB ou para Lula?

Muito mais para nós. Do ponto de vista regional, estamos juntos com o PMDB na maioria dos Estados.

O pré-candidato do PMDB Anthony Garotinho disse que tem conversado com Alckmin sobre o segundo turno, e não sobre a vice do PSDB.

Com toda a razão. O nosso compromisso de vice é com o PFL e mais ninguém. Acho bastante possível um acordo com ele no segundo turno. A rejeição ao governo Lula nos une.

Como será a participação de José Serra na campanha?

São Paulo é sempre o Estado básico nas eleições e o sucesso do desempenho de Serra é diretamente proporcional ao sucesso de Alckmin e vice-versa.