Título: Preso gerente do escritório do Crédit Suisse
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2006, Economia & Negócios, p. B6

PF suspeita de envolvimento de políticos na evasão de divisas

A Polícia Federal investiga o envolvimento de políticos na evasão de divisas e lavagem de dinheiro por meio do escritório de representação do banco suíço Crédit Suisse em São Paulo. Eles são suspeitos de terem usado os serviços para efetuar remessas de grande valor. Anteontem à noite, o gerente Internacional de Negócios para o Brasil do banco, Peter Schaffner, foi preso na sala VIP do Aeroporto Internacional de Guarulhos, quando esperava para embarcar para a Suíça. Ele agora será interrogado pela polícia.

Também são investigados outros cinco executivos do escritório - mais três suíços e dois brasileiros, além de um gerente do Banco do Brasil.

Schaffner antecipou viagem marcada para abril depois que a PF invadiu o escritório do banco localizado na Avenida Faria Lima, na capital paulista, na terça-feira. Computadores e documentos apreendidos serão analisados pela Delegacia de Investigações de Crimes Financeiros da polícia. O mandado de busca e apreensão foi expedido pelo juiz Fausto Martin de Sanctis, da 6ª Vara Criminal, especializada em lavagem de dinheiro e crimes financeiros. Foi também Sanctis quem pediu a prisão temporária do gerente. Foram determinadas buscas também nas residências dos investigados.

DENÚNCIA

A operação, chamada de Suíça, teve início há quatro meses, quando a PF recebeu uma denúncia de prática ilegal de captação de clientes com interesse em investir no País.

A princípio, o banco fazia divulgação dos serviços no seu site. Com autorização do juiz, foram interceptadas conversas telefônicas para comprovar a prática. Além da evasão de divisas e lavagem de dinheiro, a PF suspeita de formação de quadrilha. O Ministério Público Federal não afasta a possibilidade de participação de doleiros nas operações de envio de dinheiro à Suíça.

O escritório do banco atuava no segmento de private banking, ou seja, com investidores de alto poder aquisitivo. O Crédit Suisse prometeu cooperar com as investigações.

A invasão teve repercussão importante no setor financeiro suíço ontem. Funcionários de vários bancos relataram que o tema foi alvo de debates nos escritórios de Genebra e Zurique. "Não vamos dar qualquer detalhes sobre o processo. Só podemos dizer que o banco irá cooperar inteiramente com a investigação", afirmou Regula Arrigoni, porta-voz do Crédit Suisse em Zurique.

Pelas normas adotadas nos últimos anos na Suíça, um banco é obrigado a prestar informações sobre um cliente se a Justiça suspeitar de movimentações irregulares. Caso não o faça, poderá ser multado pelas autoridades.

Há menos de um mês, informações publicadas na imprensa apontaram que o publicitário Duda Mendonça, por meio de sua conta em Dusseldorf, teria transferido do BankBoston de Miami US$ 730,34 mil para o Crédit Suisse de Zurique. De lá, o dinheiro teria seguido para um beneficiário na Suíça não identificado. A transação ocorreu no dia 19 de setembro de 2003 e os dados fazem parte do registro coletado pela Justiça americana.

Arrigoni recusou-se, porém, a confirmar qualquer informações sobre Duda Mendonça ou sobre as transferências mostradas nos documentos que a Justiça americana enviou à CPI dos Correios, publicadas em jornais brasileiros.