Título: Bresser pede fim de 11 anos de ortodoxia econômica
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2006, Economia & Negócios, p. B4

Ex-ministro da Fazenda espera que Alckmin, se eleito, adote o 'novo desenvolvimentismo', com juros baixos

Geraldo Alckmin será o candidato do "novo desenvolvimentismo", rompendo o reinado de 11 anos da ortodoxia monetária da PUC do Rio de Janeiro entre os tucanos e no governo. Assim espera o economista Luiz Carlos Bresser Pereira, ex-ministro da Fazenda.

Bresser era partidário do derrotado candidato a candidato tucano José Serra, mas se diz otimista com as prováveis escolhas de Alckmin no campo econômico. E aposta que o grupo de São Paulo - que reúne pensamentos diversos como os de Luiz Carlos e José Roberto Mendonça de Barros, Yoshiaki Nakano e do próprio Bresser - vai prevalecer sobre o grupo do Rio, ou da Casa das Garças, que reúne Armínio Fraga, Edmar Bacha, Persio Arida e Ilan Goldfajn.

"Uma vez eleito, Alckmin vai querer fazer o melhor governo, e fazer o melhor governo não é baixar a cabeça para Washington e muito menos para a Casa das Garças", diz Bresser.

Bresser aposta que Alckmin vá pregar o "novo desenvolvimentismo", um modelo que une ortodoxia fiscal e câmbio administrado, cortes significativos nos juros e déficit zero em conta corrente (nada de poupança externa).

Diferentemente do antigo desenvolvimentismo dos anos 50, que pregava certa frouxidão fiscal e complacência com a inflação, o novo desenvolvimentismo advoga disciplina nas contas públicas e rigor contra a inflação.

"Mas, ao contrário dos neoliberais da Casa das Garças, queremos que o BC tenha dois mandatos (inflação e crescimento) e dois instrumentos (juros e câmbio)", diz Bresser.

"O presidente eleito tem de chamar o seu ministro da Fazenda e presidente do BC e dizer: eu quero uma estratégia para reduzir essa taxa de juros e colocar a taxa de câmbio no nível correto, e administrar as duas", exemplifica o economista. Para ele, a doença da economia brasileira deixou de ser a inflação. Agora, é formada por juros e câmbio. "Acho que o novo governo vai segurar gasto também, porque é fundamental, mas a mudança radical será baixar a taxa real de juros de 12% para 3% ou 4% em dois anos."

PÁGINA EM BRANCO

"O que o senhor acha dessa frase que corre no mercado: o governador Alckmin é uma página em branco em que Armínio Fraga pode escrever o que quiser?", foi a pergunta feita a Bresser por um repórter. Ele respondeu que o governador ainda não decidiu qual será sua linha, mas está longe de ser uma página em branco. "É um homem muito inteligente" e também conversa com o professor Nakano.

Para Bresser, Alckmin não representa, necessariamente, a continuidade da atual política econômica, como crê o mercado financeiro. "O mercado tinha de fazer uma escolha entre o Serra e o Alckmin - o Serra, já se sabia qual era sua posição", diz. "Já o Alckmin, ainda não se decidiu, ele está avaliando."

Segundo Bresser, a ortodoxia convencional, que vem do Rio e de Washington, está superada. "E eles dizem que todos os que se opõem à ortodoxia convencional são populistas ou heterodoxos; essa é uma estratégia ridícula para desqualificar o adversário."