Título: Empresários elogiam nova linha a favor da indústria
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2006, Economia & Negócios, p. B4

Executivos comemoram sinais de mudanças de rumo, como o abandono da redução de tarifa de importação

Os empresários estão comemorando a atitude mais "pró-indústria" do novo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Os industriais ficaram especialmente aliviados com as indicações de que Mantega vai abandonar a proposta de redução unilateral das tarifas de importação, idéia que o ex-ministro Antonio Palocci apoiava, como forma de abrir caminho para redução de juros e aumentar a competitividade. "O bom senso voltou a imperar no Ministério da Fazenda", diz Humberto Barbato, diretor do Departamento de Comércio Exterior do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). "A abertura unilateral, em meio às negociações comerciais, era suicida."

Barbato afirma que a desvalorização do dólar já equivale a uma redução das alíquotas, ecoando declarações de Mantega. "A tarifa externa comum (TEC) média é de 14%, e o dólar já caiu bem mais que isso", diz Barbato. O empresário se diz esperançoso em relação à gestão de Mantega, por seu histórico de críticas aos juros altos e sua passagem pelo BNDES.

Para o presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton de Mello, a troca no comando da Fazenda é uma oportunidade de correção de rumo. "Acreditamos que o ministro Mantega será um bom timoneiro, capaz de desviar do iceberg com o qual estávamos perto de colidir", afirmou Mello, que vê com entusiasmo a nomeação.

Dentre as correções de rumo, ele destaca uma aceleração da queda da taxa básica de juros e também da TJLP. "O fato de Mantega ter descartado, em sua primeira entrevista, a redução das tarifas de importação é fantástico. A acredito que Mantega fará o possível para que o Brasil tenha um dólar mais alto e um juro mais baixo."

Para Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), nem Palocci ia conseguir fazer avançar a idéia de redução unilateral das alíquotas de importação. "Ele não tinha um argumento sólido." Segundo Almeida, a tarifa média da indústria, de 10,8%, já não é alta - a da China e Rússia fica entre 9% e 9,5% e da Índia e México fica entre 13% e 17%.

Almeida acredita que Mantega vai tentar sensibilizar mais o governo para o problema do câmbio valorizado. "No BNDES, ele viu o problema do câmbio de perto, porque testemunhou a retração de investimentos em setores exportadores."

Com menos entusiasmo, mas demonstrando otimismo, o presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, acredita em uma queda mais acentuada da Selic e também em uma redução da TJLP de 9,0% para 7,5% ao ano. Para ele, é possível esperar também medidas de desoneração de investimentos. "Esperamos uma 'MP do Bem 3' para os investimento."