Título: Dispara o número de empresas de serviços com tecnologia de ponta
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2006, Economia & Negócios, p. B4

Desde 1998, aumento foi de quase 70%; no setor industrial, alta foi de 16,5% e no comércio de 29,6%, revela Ipea

O número de empresas da área de serviços que operam com maior conteúdo tecnológico cresce no Brasil a taxas maiores que outros setores, inclusive o industrial. Em quatro anos, passou para 147,5 mil a quantidade de firmas com essa classificação, avanço de quase 70% em relação a 1998. Nos demais serviços, menos dinâmicos, o aumento ficou em 54,4%. A quantidade de indústrias foi ampliada em 16,5% e a de empresas de comércio em 29,6%.

Essas empresas pertencem ao universo de 929 mil firmas do setor de serviços espalhadas pelo País, mas se destacam por pertencerem ao grupo definido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) como KIBS, sigla do termo em inglês Knowledge Intensive Business Services, ou empresas de serviços empresariais intensivos em conhecimento. Nesse segmento, o número de funcionários, o faturamento e a massa salarial também apresentaram taxas de crescimento superiores aos demais (ver quadro).

As empresas dinâmicas são as que promovem investimentos em pesquisa e desenvolvimento e agregam maior valor à produção. Entre elas estão, por exemplo, as de informática, processamento de dados, telecomunicações, assessoramento empresarial, serviços de engenharia e de pesquisas.

"Não são empresas intensivas em bens físicos, mas em inteligência, em conhecimento", define o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Glauco Arbix. Estudo recém-concluído do instituto, ligado ao Ministério do Planejamento, traça um mapa do setor de serviços, que movimenta por ano R$ 326,6 bilhões e cria 6,8 milhões de empregos diretos. Desse total, 873,9 mil trabalham nas empresas de serviços intensivos.

Entre os segmentos pesquisados, o de informática é o mais dinâmico. Cerca de 30% das empresas do setor introduziram alguma inovação para o mercado no período pesquisado, entre 1998 e 2002. O menor índice, de 2%, é na área de audiovisual. Na área de informática estão consultoria em sistemas, desenvolvimentos de programas, processamento de dados, atividades de bancos de dados e manutenção de máquinas de escritório e de informática.

FALTA APOIO O foco do Ipea foi mostrar que há no Brasil empresas mais dinâmicas, que nascem a reboque da demanda das indústrias por pesquisa e desenvolvimento (P&D), serviços de informática e gestão, entre outros. "É uma sinalização de que algo de novo e bom está ocorrendo na indústria brasileira", diz o diretor de Estudos Setoriais do Ipea, João Alberto De Negri.

O lado ruim é a constatação de que as instituições de Estado ainda não estão capacitadas para apoiar o que De Negri chama de "economia do conhecimento". Países desenvolvidos consideram as KIBS o "motor da indústria" e mantêm investimentos constantes no setor.

As empresas que encerram atividades não são necessariamente as piores ou menos produtivas. "Tem empresa boa fechando por falta de financiamento, burocracia, dificuldades de gestão, o que chamamos de imperfeição do mercado", diz De Negri. "Acaba sendo um desperdício de inteligência."

Só há dois meses o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) abriu um programa especial de crédito para financiar empresas inovadoras. "Há dificuldades no governo em definir políticas para trabalhar o intangível, o conhecimento", reconhece Arbix.

Segundo o presidente do Ipea, a exemplo da indústria que investe em P&D, inova e diferencia produtos, as empresas de serviços que seguem essa linha contratam mão-de-obra mais especializada, pagam melhor e têm mais capacidade de exportar.

A Organização Mundial do Comércio (OMC) mostra que entre 1993 e 2003 as exportações de serviços comerciais no mundo todo cresceram 90%, passando de US$ 941 bilhões para US$ 1,79 trilhão. No Brasil, houve aumento de 140%, de US$ 3,9 bilhões para US$ 9,6 bilhões. A fatia do País nesse bolo é de só 0,5%. A China, por exemplo, tinha 2,5% do bolo. Na indústria, a participação das exportações brasileiras era de 1,2% no total mundial.

O Brasil ainda está engatinhando na exportação de serviços, diz Arbix. Ele acredita que tenha ocorrido uma melhora por causa do recente crescimento em áreas como a de telefonia móvel. O País, por exemplo, é importante exporta dor de jogos para celulares.

O setor de serviços é mais concentrado qu e o industrial, alerta o estudo. Dos 5.507 municípios do País, 328 abrigam a maior parte das empresas de serviços com melhor nível tecnológico. No caso da indústria, a concentração ocorre em 450 cidades.

Num cálculo com as 500 cidades com maior quantidade de indústrias, foi constatado que elas representam 88% do PIB industrial brasileiro. Número igual de municípios com mais atividades na área de serviços mostra que a participação no PIB total do setor é de 98%. "A presença de empresas inovadoras tem impacto no perfil das cidades e certamente influencia na escolha de investimentos dentro da estratégia das indústrias", diz Arbix.