Título: Governo da Bolívia quer acabar com protestos
Autor: João Naves
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2006, Economia & Negócios, p. B3

O governo de Evo Moralles iniciou uma série de ações para pressionar os manifestantes que apóiam a instalação da siderúrgica MMX, do grupo brasileiro EBX, liderado pelo empresário Eike Batista, em Puerto Suarez, divisa com a cidade de Corumbá, no Mato Grosso do Sul.

A reação governamental começou com a ameaça de prisão dos líderes dos protestos, ocupação do canteiro de obras da empresa pelo Exército e a decisão de o Ministério Público de convocar diretores da EBX para prestar esclarecimentos sobre as denúncias de seqüestro de ministros e violação de artigos da constituição do país.

A notificação do Ministério Público inclui prefeitos das cidades de Puerto Suarez (Puerto Quijarro e El Carmen Rivero Tórrez) e German Buch. As ameaças, porém, resultaram em aumento do movimento popular, com grupos de manifestantes que passaram a noite de sábado e amanheceram ontem na porta da MMX para evitar que soldados enviados por Moralles ocupassem o canteiro de obras da empresa, facilitando a expulsão do grupo empresarial brasileiro da Bolívia. "Não vamos recuar porque não se trata de um ato político e sim de uma mobilização popular", afirmou o presidente do Comitê Cívico de Puerto Suarez, Edil Gerick.

No sábado, manifestantes evitaram que fiscais do governo entrassem na fábrica da MMX. Segundo Gerick, a intenção deles era ocupar as instalações e deter dirigentes empresariais. "O avião que chegou com os fiscais teve de regressar."

A população local apóia o protesto. De plantão em frente à fábrica, a dona de casa Andréa Sezaris declarou: "Aqui eles não irão entrar. Se o presidente Evo quer enfrentamento, ele terá, porque estamos dispostos a tudo para defender o emprego de nossos filhos." O comércio na região está parado. "Morales nos chamou de delinqüentes em rede nacional, porque realizamos bloqueios. Mas só quem vive aqui sabe a situação de miséria em que vivemos. Não queremos esmola de ninguém, apenas o direito de trabalhar para pagar nossas contas e ter uma vida digna", afirmou a comerciante Mônica Welsar.

Hoje, brasileiros realizarão ato público contra a decisão do governo boliviano em encampar ou expulsar a MMX. O evento é um dos preparativos para uma passeata que será realizada em Corumbá, em que a EBX deve apresentar estudos de impacto ambiental da instalação da empresa no pólo siderúrgico de Corumbá. As manifestações do lado boliviano também continuam. Moradores bloqueiam a fronteira com Corumbá, a ferrovia, o aeroporto e a estrada que dá acesso à Santa Cruz.

Morales acusa a MMX de ter se instalado ilegalmente no país, violando leis ambientais e a Constituição, que impede empreendimentos estrangeiros num perímetro inferior a 50 quilômetros da fronteira. A empresa nega irregularidades, mas decidiu deixar a Bolívia. O investimento no projeto era de US$ 150 milhões para produção de 800 mil toneladas ao ano de ferro-gusa, produto intermediário para fazer aço.