Título: Indústrias têxteis tiram Brasil do mapa das novas fábricas
Autor: Ricardo Grinbaum e Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2006, Economia & Negócios, p. B8

Três dos maiores grupos têxteis nacionais, Santista, Coteminas e Vicunha anunciam nos próximos dias seus planos de investimentos em novas fábricas. Só há uma certeza sobre os projetos: eles serão feitos bem longe do Brasil. Os empresários decidiram fugir dos problemas de competitividade do País e partir para o exterior.

O dono da Coteminas, Josué Gomes da Silva, acaba de voltar de uma viagem ao Egito, onde visitou fábricas que serão privatizadas. "Encomendamos um estudo ao Internacional Finance Corporation (que pertence ao banco Mundial) sobre os melhores países onde investir e o Egito apareceu com destaque", disse Silva.

A Coteminas, que comprou no ano passado a americana Springs, deve investir US$ 100 milhões na aquisição ou construção de novas fábricas de produtos de cama, mesa e banho. Se não for no Egito, será na China, Paquistão, Índia ou Vietnã. "Não há possibilidade de fazermos um investimento desse porte no Brasil", disse Silva.

A Santista também descarta fazer grandes investimentos no País. No final de 2005, a empresa comprou a espanhola Tavex e virou a maior fabricante mundial de jeans. Mesmo assim, só tem 10% do mercado. O resto está dividido entre dezenas de empresas, em vários países.

Controlada pelo grupo Camargo Corrêa, a Santista pretende abrir novas fábricas e comprar concorrentes no exterior. A primeira iniciativa será a construção de uma nova indústria de jeans, a ser anunciada nos próximos dois ou três meses. A fábrica receberá investimentos de US$ 70 milhões e deverá gerar 700 empregos.

Dona de seis fábricas no interior de São Paulo, Sergipe e Ceará, agora a Santista está em dúvida se investe em El Salvador, Honduras, República Dominicana, Nicarágua, Guatemala ou Costa Rica.

Os executivos da empresa estiveram nos seis países da América Central, onde foram recebidos pelos presidentes da República. No ano passado, o então presidente de Honduras, Ricardo Maduro, deixou a capital para receber os brasileiros em Puerto Cortês, onde o grupo estuda instalar a indústria.

No Brasil, os executivos da Santista também estão falando com o governo. Mas o tom da conversa é outro.

"A Santista Têxtil quer dobrar de tamanho em quatro anos. Por que o Brasil está fora do nosso mapa de investimentos?", perguntou Herbert Schmid, presidente da Santista, ao ministro do Desenvolvimento Luiz Furlan, em encontro de produtores têxteis em São Paulo, na sexta-feira passada.

Furlan não respondeu diretamente a pergunta. Essa é uma questão embaraçosa para o governo brasileiro. Os donos das maiores empresas têxteis brasileiras passaram da fase das queixas para a ação. Estão de mudança para o exterior.

"O Brasil tinha tudo para ser um país altamente competitivo no setor têxtil", disse Schmidt. "Mas ficou inviável."

O Brasil tem energia elétrica a um preço mais baixo que outros países, algodão em boa quantidade e um grande mercado consumidor. Grandes empresas brasileiras têm tecnologia de ponta e alta produtividade. Mas o País está perdendo poder de competição no mercado internacional.

Além das queixas comuns a todos os empresários - falta de infra-estrutura, impostos altos e câmbio defasado - os produtores reclamam da concorrência com produtos chineses importados legalmente ou contrabandeados e a falta de acordos comerciais com os Estados Unidos e a Europa.

Produzir uma calça jeans no Brasil custa quase o mesmo que na Guatemala. Embora os trabalhadores lá ganhem menos, a energia é mais cara. A diferença é que as calças brasileiras pagam 17% de imposto nos Estados Unidos. Na América Central não pagam taxa nenhuma.