Título: Dengue avança no litoral do Rio e SP
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2006, Vida&, p. A17

Angra e Paraty (RJ) já têm epidemia; aumento da população na região por causa de feriados pode piorar situação

Quem planeja passar os feriados de Tiradentes e 1º de Maio no litoral sul do Estado do Rio deve ficar atento. Paraty e Angra dos Reis concentram 37% dos 13.654 casos suspeitos de dengue registrados no Estado desde o início do ano (5.161), o que configura epidemia, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. Nem todos os casos estão confirmados - muitos aguardam resultado de exames. O governo enviou equipes para reforçar ações de contenção da doença.

Nas duas cidades, o índice de infestação do mosquito transmissor da dengue é bem maior que o limite de 1% aceitável estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Em Angra, há regiões com 3,4%. Em Paraty, o quadro é ainda mais crítico, com bairros com 4,5%.

Uma das hipóteses para o avanço seria a grande quantidade de casas de veraneio que ficam fechadas na baixa temporada, o que impede a ação dos técnicos de saúde. Levantamento feito em janeiro e fevereiro pela prefeitura de Paraty em 1.302 casas revelou que 248 (19%) estavam fechadas. Outra possível razão é a importação da doença, já que o fluxo de turistas é grande.

A dengue é cauda por vírus transmitido pela fêmea do mosquito Aedes aegypti. Os sintomas são febre alta, manchas vermelhas no corpo, dor na cabeça, corpo, articulações e olhos. O tipo hemorrágico provoca sangramentos e pode levar à morte. Controla-se a doença evitando a proliferação do mosquito, que se reproduz em água limpa parada.

Neste ano, em Paraty, dos 1.530 casos suspeitos, 59 foram confirmados. Mas ainda existem mil amostras de sangue em avaliação. Pelo menos dois dos casos confirmados são de pessoas que se infectaram em Angra dos Reis e no Rio. Em Angra, autoridades de turismo afirmam que, embora muitas pessoas de fora liguem pedindo informações, as taxas de ocupação nas pousadas permanecem altas. Na cidade, foram confirmados 262 casos - e notificados 3.631 desde janeiro.

SÃO PAULO

A dengue também aumenta no litoral de São Paulo. Órgãos de saúde registraram neste ano 708 casos nas cinco principais cidades da Baixada Santista. Em 2005, foram 2.378. Mas as autoridades evitam falar em epidemia.

Praia Grande registrou até agora 50 casos. E é a cidade onde há o maior número de suspeitas: 2.100 amostras aguardam a análise pelo Instituto Adolfo Lutz (leia mais no texto ao lado). Guarujá vem em seguida, com 337 casos positivos e 1.431 esperando resultado.

Em Santos, foi verificado aumento de 33,5% das notificações desde o começo do ano em relação ao mesmo período de 2005. Dos 1.126 casos informados, 145 foram positivos, 147 deram negativo, 738 aguardam a conclusão da análise pelo Adolfo Lutz e 96 foram considerados inconclusivos. São Vicente teve 370 casos em 2005. Em 2006, já apresenta 146 confirmações, com 672 suspeitas. Cubatão tem 94 casos positivos e 328 em andamento.

O chefe do Programa de Combate e Prevenção à Dengue de Santos, Marcelo Brenna, entende que a situação é grave, mas lembra que a região já viveu momentos piores em 2001 e 2002. Ele aguarda os resultados do Adolfo Lutz para conhecer a extensão real do problema e ressalta que, embora a dengue seja doença de notificação obrigatória, nem todos os casos são comunicados, especialmente os atendidos em consultórios particulares. Pessoas sob suspeita têm de aguardar um período para a coleta de sangue e muitos não fazem isso.

São Paulo é o terceiro Estado com o maior número absoluto de pessoas contaminadas pela doença neste ano. Foram 5.312 casos nos três primeiros meses do ano, com uma morte por dengue hemorrágica em Ribeirão Preto.

A situação é pior em Minas Gerais (6.851 casos de janeiro a março) e em Goiás (5.447), segundo dados do Ministério da Saúde. O Rio foi o quarto Estado com o maior número de contaminações no País. Segundo dados do ministério, 48.847 pessoas se contaminaram no Brasil nos três primeiros meses de 2006. Em todo o ano passado, foram 186.702 casos.