Título: Bolsa Família é citada como exemplo
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2006, Economia & Negócios, p. B5

América Latina tem de crescer mais para reduzir pobreza, segundo Bird

O programa Bolsa Família faz sucesso em Washington e melhora as perspectivas de combate à pobreza na América Latina, segundo o Banco Mundial. Para alcançar as Metas de Desenvolvimento do Milênio, aprovadas em 2000 por 189 governantes, os países latino-americanos devem reduzir de 11,3% em 1990 para 5,7% em 2015 a proporção de pessoas com renda inferior a US$ 1 por dia. Pela última estimativa, esses pobres ainda serão 6,2% no final do período, mas o resultado seria pior sem o desempenho do Brasil, disse o economista-chefe do Bird, François Bourguignon.

A parcela de pessoas com menos de US$ 1 por dia caiu para 8,9% em 2002, na América Latina. O desempenho foi muito melhor no Oriente, mas a pobreza também era muito maior. Na Ásia Oriental e no Pacífico a proporção de miseráveis diminuiu de 29,6% em 1990 para 11,6% em 2002. Esse resultado é atribuído à melhora dos indicadores da China e da Índia.

Pela última projeção do Bird, as pessoas com renda diária inferior a US$ 1 devem passar de 27,9%, no conjunto dos países em desenvolvimento, para 10,2% em 2015. Em 2002 a proporção já havia caído para 21,7% e a melhora deve ter continuado nos últimos anos, segundo economistas do Bird, graças ao crescimento econômico.

Já houve resultados animadores, como a diminuição da mortalidade infantil em 9 de 10 países pobres para os quais os dados demográficos e de saúde são disponíveis a partir de 2002.

Na América Latina o baixo crescimento econômico tem dificultado a redução da pobreza, de acordo com o Bird. O relatório de acompanhamento das Metas do Milênio divulgado ontem não discrimina a evolução da porcentagem no Brasil. Apenas indica, para a última data disponível, uma parcela de 7,5% de pessoas com renda diária inferior a US$ 1.

Na Argentina a proporção é parecida, 7%. Na América Latina as proporções são muito disparatadas e incluem números tão diferentes quanto 2,2% em Costa Rica, 20,7% em Honduras e 53,9% no Haiti.

Os últimos números disponíveis para a China e para a Índia apontam 16,6% e 34,7% de pessoas vivendo com menos de um dólar por dia.

O Bolsa Família foi mencionado ontem, numa entrevista, pelo presidente do Bird, Paul Wolfowitz, que lembrou que o modelo original foi um programa desenvolvido no México. Foi citada também, horas depois, por Bourguignon. O programa mostra, segundo Wolfowitz, que é possível produzir um "enorme impacto" na pobreza com a aplicação de menos de 0,5% do PIB.