Título: Sob pressão, rei do Nepal promete ceder poderes
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2006, Internacional, p. A15

Gyanendra pede que oposição indique primeiro-ministro, mas os partidos exigem convocação de Constituinte

Depois de duas semanas de violentos protestos contra a monarquia, o rei Gyanendra, do Nepal, prometeu ontem restaurar a democracia e "devolver o poder ao povo", mas não deu sinais de que vá reinstalar o Parlamento nem convocar uma Assembléia Constituinte - duas exigências-chave de uma aliança opositora de sete partidos políticos. Insatisfeito, o principal partido do país, o Congresso Democrático Nepalês, prometeu novos protestos.

Em rede de TV, Gyanendra afirmou que sua dinastia - reinando desde o século 18 - sempre teve "um compromisso com a monarquia constitucional e a democracia pluripartidária", e pediu que os partidos indiquem um chefe de governo. "A partir deste dia, o Poder Executivo no reino do Nepal deve ser devolvido ao povo", disse o monarca, olhando desconfortavelmente para a câmera. "Pedimos à aliança partidária que recomende o nome pata o posto de primeiro-ministro o quanto antes, para a formação de um conselho de ministros que terá a responsabilidade de governar o país de acordo com a Constituição."

"Isso é incompleto", reagiu um dirigente do Congresso Democrático, Minendra Risal, reiterando a exigência de que seja restaurado o Legislativo e convocada uma Constituinte. Um porta-voz do partido, Krishna Prasad Sitaula, disse que "a campanha de protestos vai continuar". Outros líderes políticos disseram que, pela proposta de Gyanendra, o monarca manteria certo poder político e continuaria controlando as Forças Armadas, o que a oposição não aceita. A aliança partidária quer uma reforma constitucional para tornar o rei uma figura meramente cerimonial ou acabar de vez com a monarquia.

Após o discurso, manifestantes voltaram a protestar nos arredores de Katmandu - já que, dentro da cidade, vigora um toque de recolher -, exigindo a renúncia de Gyanendra. "Viva a democracia! Fora Gyanendra!", gritava um grupo. "Queremos um sistema presidencialista", disse um manifestante. "Este país não precisa desse ladrão (Gyanendra)."

Gyanendra dissolveu o governo e assumiu poderes absolutos em fevereiro de 2005, prometendo esmagar uma revolta de guerrilheiros maoístas que, em dez anos, deixou mais de 13 mil mortos. No dia 6, a aliança opositora lançou uma campanha pela restauração da democracia, levando dezenas de milhares de pessoas às ruas diariamente. Doze manifestantes já foram mortos e centenas, feridos na repressão policial.