Título: MST entrega arma de PM agredido
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2006, Nacional, p. A14

Organização sustenta que pistola foi encontrada no chão por militante operário que ficou inseguro de devolvê-la

Com discursos pela paz, distribuição de rosas branca, música e soltura de 10 pombas, o Movimento dos Sem-Terra (MST) entregou ontem de manhã, a um grupo de deputados e representantes dos direitos humanos, a pistola .40 do capitão Dimerson Mendes, da Polícia Militar pernambucana.

O policial prestou queixa anteontem na delegacia de Santo Amaro por roubo de arma com agressão. Ele foi espancado no encerramento da marcha de abertura do II Fórum Social Brasileiro, na noite da quinta-feira, no centro do Recife, quando houve tiroteio e confronto entre a Polícia Militar e manifestantes. O coordenador nacional do MST em Pernambuco, Jaime Amorim, teve o polegar direito atingido de raspão por uma bala, durante o conflito que deixou mais seis manifestantes e dois PMs machucados.

A comissão de direitos humanos, também integrada pelo Ministério Público Estadual e pelo subsecretário Especial dos Direitos da Presidência da República, Perly Cipriano, acompanhou Luciana Pivato, advogada da organização Terra dos Direitos, que foi encarregada de segurar a cesta contendo a arma desaparecida até a entrega ao Comando Geral da Polícia Militar, no bairro do Derby.

O delegado especial designado para apurar o caso, José Durval, adiantou que a devolução não altera o andamento das investigações nem livra o MST da condição de suspeito pelo roubo da arma. Segundo Durval, o reaparecimento da pistola dá credibilidade à declaração do capitão Mendes de que a arma lhe havia sido retirada por integrantes do MST. Ao ser atendido no hospital da Unimed na noite do conflito, o capitão havia afirmado, em entrevista a jornalistas, que não havia visto quem retirou a arma nem reconheceu seus agressores.

O delegado José Durval disse que a pistola e outras "três ou quatro armas" de policiais presentes ao confronto serão requisitadas à PM para serem periciadas.

De acordo com Jaime Amorim, um integrante de um movimento operário - cuja identidade é omitida - recolheu a arma ao vê-la no chão, no momento da agressão ao capitão. Ele teria se sentido inseguro de entregá-la à polícia, temendo ser envolvido como suspeito. Decidiu então procurar a coordenação do Fórum Social Brasileiro - da qual o MST faz parte - na tarde de anteontem.

"Estamos devolvendo ao Estado o que é do Estado", afirmou Amorim, quando oito crianças ligadas ao MST fizeram a entrega da pistola numa cesta de vime coberta com papel de embrulhar pão, na concha acústica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde se realiza o fórum, que tem a participação de mais de 300 movimentos sociais e organizações não-governamentais.

"A batata quente caiu nas nossas mãos e a estamos repassando para a comissão", disse Amorim. "Essa decisão (de devolver a arma à PM) foi tomada como uma alternativa conjunta para que o problema seja resolvido."