Título: 'Temos vontade de ajudar a Varig'
Autor: Tânia Monteiro, Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2006, Economia & Negócios, p. B12

Ministra Dilma Rousseff muda o discurso e diz que o BNDES pode repassar recursos para socorrer a empresa

Depois de o governo passar semanas negando que pudesse haver repasse de recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para socorrer a Varig, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, mudou o discurso e, em tom mais conciliador, falou da disponibilidade de ajuda à empresa aérea. Segundo a ministra, "sem sombra de dúvidas, o BNDES se dispõe a entrar" (para financiar a Varig) se houver um investidor novo que dê garantias. Até agora, o governo resistia em admitir que o banco pudesse injetar recursos na empresa e reiterava que o governo já havia ajudado como podia ao não cobrar as dívidas da companhia, o que levou o débito a mais de R$ 8 bilhões.

"É fundamental que a Varig seja operada por um investidor que tenha condições operacionais e financeiras de assumir a empresa", afirmou a ministra. "Sem sombra de dúvida, o BNDES se dispõe a entrar", afirmou, de forma incisiva, em tom diferente do adotado em outras ocasiões. Questionada se o BNDES só entrará financiando um novo investidor, ela respondeu: "É fundamental que seja (novo investidor)".

Sobre o tempo que ainda levará para surgir o novo investidor que salvaria a empresa aérea, a ministra declarou: "Não dá para estipular prazo para a entrada do investidor, porque isso não depende do governo, depende de uma série de fatores". Para ela, só o investidor interessado na empresa pode definir quando e como pretende fazer a sua oferta.

Na semana passada, no Rio Grande do Sul, Dilma, embora ressalvando que o governo está interessado em preservar a marca Varig e, conseqüentemente, os empregos, declarou que "o governo já socorreu a Varig ao não cobrar as dívidas". E repetiu, com ênfase, que o interesse em preservar a marca "não significa botar dinheiro para afundar o buraco, porque botar dinheiro para afundar buraco foi feito até hoje". Afirmou também que não era "de graça" que a empresa tinha uma dívida de R$ 8,5 bilhões.

A própria ministra disse que o BNDES poderia ser acionado, "se houvesse garantias", mas colocando essa possibilidade como remota. Ela fez questão de repetir uma frase dita pelo presidente, lembrando que eram palavras de Lula: "Nós não vamos botar dinheiro para ficar dando fôlego para quem não tem".

DIRCEU O ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu defendeu ontem que o governo federal estatize, saneie e depois privatize a Varig, da qual, afirmou, é o maior credor, tendo a receber cerca de R$ 4,5 bilhões. Em palestra para estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o petista afirmou que o governo tem "ajudado e subsidiado violentamente" a empresa ao não cobrar esses débitos, mas essa situação não poderá durar, porque o Tribunal de Contas da União não permitirá, já que está em jogo dinheiro público.