Título: Gil contesta na Justiça versão de vigia
Autor: Laura Diniz
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2006, Metrópole, p. C5

Defesa protocola pedido para apurar coação da polícia sobre vigilante, que disse ter visto acusado sair da casa do pai

A defesa de Gil Rugai, de 22 anos, quer provar que não é verdadeiro o depoimento do vigia Domingos Andrade, principal testemunha na qual o Ministério Público Estadual (MPE) se baseia para acusá-lo do assassinato do pai, Luiz Carlos Rugai, e da madrasta, Alessandra Troitiño, em 2004. O advogado de Gil, Fernando José da Costa, protocolou ontem uma petição no Tribunal de Justiça requerendo a investigação de suposta coação policial para que o vigia declarasse ter visto o jovem sair da casa do pai, na Rua Atibaia, Perdizes, após o crime. Gil, libertado da prisão na semana passada, alega inocência.

O advogado argumenta que, no primeiro depoimento, Andrade disse não ter visto ninguém. No segundo, afirmou ter visto Gil e outra pessoa saindo do local, logo após os tiros. Pouco tempo depois, a guarita de Andrade foi queimada e um muro, pichado com as inscrições "Datena (apelido dele) morre". Segundo Costa, Andrade, "mesmo se dizendo analfabeto, declarou ter lido os dizeres escritos em muro situado próximo à guarita por ele usada".

"Se ameaça houve, só pode ter sido praticada por policiais, conforme relatado por sua esposa (do vigia)", diz Costa. Em entrevista na época, sem saber que estava sendo gravada, a mulher de Andrade disse ao Fantástico, da Rede Globo, que o marido foi obrigado por policiais a mudar sua versão dos fatos.

Costa pede que a Corregedoria da Polícia Civil apure o fato. "É de registrar que causa estranheza o fato de não se ter determinado a investigação da aventada ameaça, que teria sido concretizada por policiais. Não se tem notícia de que a acusação (promotora Mildred de Assis Gonzalez) tenha agido nesse sentido, apesar de agir na qualidade de defensora das garantias jurídico-sociais", alfinetou.

O advogado explicou que pediu apuração do fato somente agora porque Mildred disse à imprensa, tentando desmenti-lo, que ainda havia um inquérito em andamento para apurar a suposta ameaça de Gil a Andrade. "Esse inquérito foi arquivado em 2005 a pedido do próprio MPE", afirmou.

A promotora disse ontem ter tomado conhecimento informalmente de que o inquérito tinha, sim, sido arquivado, porque não foi possível identificar quem fez a ameaça. Segundo Mildred, o depoimento verdadeiro é aquele em que o vigia diz ter visto Gil saindo da casa. "A mulher disse aquilo para que o marido não fosse envolvido no caso", rebateu. Segundo a promotora, a mulher do vigilante lhe disse: "Quero livrar meu marido porque nossa vida virou um inferno. Tenho dois filhos pequenos."

A petição foi encaminhada ao TJ, que julgará recurso de Gil contra a sentença de pronúncia, que o mandou a júri popular. O vigia e sua família estão no programa de proteção a testemunhas desde a época do crime. Segundo Mildred, Andrade está "apavorado" desde que o jovem saiu da prisão.