Título: Ajuste fiscal mais forte e ousado, pedem economistas
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2006, Economia & Negócios, p. B8

Economistas como Affonso Celso Pastore, Cláudio Frischtak e Raul Velloso, que participaram do segundo dia do Fórum Nacional, defenderam um ajuste fiscal mais forte e ousado para que o País cresça de forma sustentada e alertaram que o cenário externo favorável não durará para sempre. Também criticaram o baixo crescimento do País na comparação com outros emergentes, apesar dos avanços nos "fundamentos" da economia.

"Medidas que se voltem ao crescimento econômico ainda estão à espera de quem as implemente", disse Pastore. Ele afirmou que os juros estão elevados e que o Brasil "precisa fazer um ajuste fiscal muito mais ousado para trazer a taxa de juros para baixo". Citou a necessidade de aprofundar o acesso ao crédito, aumentar investimentos em infra-estrutura, reduzir barreiras e abrir mais a economia.

Pastore, ex-presidente do Banco Central (BC), resssaltou que o País atravessou um cenário externo positivo, mas "não conseguiu transformar o impulso num crescimento, como os demais países". No geral, disse, houve melhoria. As reservas internacionais superam em mais de duas vezes as amortizações previstas no ano.

Segundo Pastore, as situações na economia "são infinitas enquanto duram". Nessa linha, o consultor Frischtak, ex-economista sênior do Banco Mundial, afirmou que o cenário mais provável para os próximos anos é de desaceleração gradual da economia do mundo.

Daí a necessidade, diz, de gestão cambial que permita aproximar o real "gradativamente do nível de equilíbrio de longo prazo" e de rigor fiscal. "É importante bater nessa tecla. Precisamos da compreensão do ajuste fiscal de longo prazo para o crescimento sustentado."

Frishtak também reforçou que a conjunção de preços elevados de commodities (produtos básicos com cotação internacional que o País exporta) e liquidez externa ocorreram apenas três vezes nos últimos 30 anos e não continuarão para sempre. O tema do ajuste foi também abordado por Raul Velloso, especialista em contas públicas e ex-secretário de assuntos econômicos do Ministério do Planejamento, que decidiu "escancarar a necessidade do ajuste fiscal", citando que o superávit primário da União "está prestes a se esgotar, se nada é feito".

Nas contas de Velloso, este superávit cairá dos 2,9% para 2,3% em 2006. O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Bernardo Appy, reiterou que a previsão oficial é de 2,45%.