Título: Fed pode interromper alta do juro
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2006, Economia & Negócios, p. B6

Sem indicar quando isso vai ocorrer, Ben Bernanke disse que pausa pode ajustar o ritmo da economia

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, indicou ontem, pela primeira vez, que a instituição poderá fazer uma pausa nas elevações do juro básico, para que a economia possa ajustar seu ritmo. Ele não indicou quando isso poderia ocorrer. Até agora, os analistas davam como certa uma nova alta do juro básico, de 0,25 ponto porcentual, para 5% ao ano, na reunião do Fed de 10 de maio.

Em depoimento à Comissão Mista de Economia do Congresso, Bernanke disse que a economia americana parece tender para uma desaceleração, e que o Fed poderia optar por um hiato na elevação do juro, mesmo com riscos inflacionários elevados. "Ainda que o Federal Reserve entenda que os riscos não sejam inteiramente equilibrados, em algum ponto no futuro poderá decidir não agir (aumentando o juro) em uma ou mais reuniões de seu comitê diretor, ganhando tempo para receber informações relevantes sobre as perspectivas econômicas", afirmou. Mas fez uma ressalva: "É claro que a decisão de não elevar o juro básico numa reunião qualquer (da direção do Fed) não impedirá uma decisão nesse sentido em reuniões subseqüentes". Com isso, indicou que a alta do juro poderá ser retomada se os riscos inflacionários não diminuírem.

O Fed elevou a taxa básica 15 vezes seguidas nos últimos 22 meses. Em reação ao discurso de Bernanke, as Bolsas subiram e o dólar recuou em relação ao euro. No fim do dia, no mercado futuro, as taxas passaram a projetar 30% de possibilidades de uma nova alta do juro, contra 70% de manhã.

Os analistas entenderam o depoimento como um sinal de que o Fed não pretende ir longe demais no aperto monetário, já que as mudanças nos custos do crédito demoram para ter efeito prático na economia. Para Glenn Haberbush, da Mizuho Securities, "a bola de cristal do Fed não está tão clara como os seus diretores gostariam".

Indagado pelos congressistas sobre as perspectivas dos índices inflacionários, o presidente do Fed respondeu que a perspectiva para a inflação "é razoavelmente favorável, com os núcleos dos principais índices estáveis e as expectativas de longo prazo bem ancoradas".

No entanto, ele advertiu que os preços da energia ainda preocupam - depois de chegar a US$ 75 o barril na semana passada, o petróleo futuro recuou para US$ 71, um nível ainda extremamente elevado.

"Se os preços da energia se estabilizarem este ano, ainda que num nível alto, seus efeitos adversos sobre o crescimento e a inflação irão diminuir", disse.

DÉFICIT COMERCIAL Bernanke também se referiu ao desafio de colocar o orçamento americano num nível mais sustentável e de conter o gigantesco déficit comercial dos Estados Unidos. O ex-conselheiro da Casa Branca para assuntos econômicos disse que até agora os EUA não tiveram dificuldade em atrair o capital estrangeiro necessário para cobrir o déficit em conta corrente - uma referência comercial mais ampla, já que inclui os fluxos de investimento. Mas insistiu em que o déficit comercial não pode aumentar para sempre. "Embora pareça provável que os desequilíbrios na conta corrente sejam superados gradualmente, ao longo do tempo, há um pequeno risco de uma mudança súbita na confiança (dos investidores estrangeiros) que poderia levar a mudanças bruscas no valor do dólar e do preço de outros ativos", afirmou Bernanke.