Título: Bandeiras, refrões e clima de campanha
Autor: Vera Rosa ,Wilson Tosta, Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2006, Nacional, p. A4

Petistas pedem `espírito de guerra¿ e exaltam a candidatura de Lula

Foi uma pajelança. Mesmo sabendo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se declararia oficialmente candidato à reeleição e com o PT ainda marcado pelo estigma de envolvimento no escândalo do mensalão, os petistas que lotaram a quadra do Sindicato dos Bancários para a abertura do 13º Encontro Nacional do PT não desanimaram. Estenderam no plenário a Bandeira do Brasil, vestiram camisetas pedindo um segundo mandato para o presidente e até provocaram adversários da oposição com palavras de ordem marcadas por ironia e desafio.

¿Ô, ô Bornhausen, eu estou aqui, a nossa raça tu vai (sic) ter que engolir¿, entoaram, na solenidade de abertura, militantes da Juventude do PT, referindo-se ao presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), que declarou no ano passado estar feliz com os escândalos porque fariam o País ficar livre da ¿raça¿ dos petistas por 30 anos.

Houve algum constrangimento na mesa de autoridades, onde estavam Lula e o vice-presidente José Alencar, além do ator Antonio Grassi, presidente da Funarte.

O tom de volta ao passado foi dado por grupos de ativistas que gritavam palavras de ordem tradicionais da legenda, como ¿PT, PT, PT, trabalhadores no poder¿ e ¿partido, partido, dos trabalhadores¿. Antes da solenidade de abertura, contudo, a maioria dos delegados, quieta, esperava, ao som da música Esses Moços, Pobres Moços, de Lupicínio Rodrigues, que, com amargura, adverte aqueles que ¿deixam o céu por ser escuro e vão ao inferno à procura de luz¿.

A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), pediu aos militantes ¿espírito de guerra¿ para enfrentar os adversários. ¿Esse espírito de guerra é que nos fará sair daqui altivos, reconhecendo erros, reconhecendo fragilidades, mas altivos¿, discursou ela, citando os programas do governo e atribuindo aos acertos, não aos erros, a gana da oposição. ¿Sabemos que tudo que estamos fazendo de políticas públicas para dar condições de vida à maioria da população é que incomoda¿, atacou. Também o presidente do PC do B, Renato Rabelo, falou em ¿guerra¿ e fez um apelo ao presidente, para que ¿ofereça a sua candidatura mais uma vez à Presidência da República¿. ¿Rapadura é doce, mas não é mole, não¿, gritou um militante durante a intervenção de Rabelo, arrancando gargalhadas e aplausos.

O presidente da CUT e da Central de Movimentos Sociais, João Felício, também assumiu tom guerreiro, dizendo que o vermelho é cor da guerra e avisando que os movimentos sociais irão para as ruas defender Lula de qualquer tentativa de impeachment.

¿Não aceitaremos o retrocesso da democracia¿, afirmou. ¿Quem não nos quer que nos derrote nas urnas.¿ Vez por outra, alguns delegados se animavam mais, para gritar: ¿Quem manda é o povo, é Lula de novo.¿ A unanimidade em torno da candidatura Lula, no entanto, recebeu reparos.

¿Eu esperaria que Lula dissesse para que ele é candidato¿, provocou Markus Sokol, integrante do Diretório Nacional do PT e da corrente trotskista O Trabalho. ¿Ele vai se apresentar à reeleição com que plataforma: para continuar esse governo neoliberal, com superávit primário?¿

Na avaliação de Sokol, Lula precisa dedicar-se a resgatar a esperança e reatar com o mandato popular que recebeu das urnas em 2002.