Título: Polícia precisa rever atuação, diz expert
Autor: Denise Madueño e Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2006, Metrópole, p. C4

Não é preciso mudar as leis para tentar melhorar a administração da segurança em São Paulo. Especialistas sugerem que sejam tomadas medidas urgentes na área da inteligência policial para conhecer com mais profundidade a atuação do crime organizado. Uma das soluções é criar um sistema de inteligência para acompanhar os presídios e identificar o papel de cada detento no sistema, acredita o ex-secretário nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva.

Hoje, a inteligência é feita basicamente por escuta telefônica. "Deveria haver um sistema de inteligência integrado com todas as forças da segurança. Polícia Civil, Ministério Público, Polícia Militar e Judiciário. Hoje eles não conversam."

José Vicente fez a ressalva de que a escuta é importante. Mas apontou como ferramenta fundamental um sistema de inteligência capaz de identificar também esquemas de lavagem de dinheiro.

O ex-secretário disse que atualmente falta na polícia até mesmo o feijão-com-arroz. O software inglês I-2, que ajuda a cruzar ligações telefônicas entre milhares de números e relacioná-las, ainda não foi adquirido pelos policiais de São Paulo. "Só a Receita Federal usa."

O cientista político Guaracy Mingardi, diretor do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e o Tratamento do Criminoso (Ilanud), concorda com José Vicente. Ele disse que os episódios da semana passada são o sinal de que a inteligência das polícias vai mal. Apesar de o governo ter afirmado que sabia havia 20 dias da ameaça dos ataques, Mingardi disse que as autoridades não souberam lidar com a informação.

"Os policiais deveriam ter sido avisados", afirmou. "Plantonistas deveriam ter sido chamados. Nas noites das ameaças, deveriam ter montado bloqueios nas ruas. Como o governo não soube trabalhar com a informação, coube só a reação, depois que muitos haviam morrido."