Título: Padeiro vende por solidariedade e não sabe mais o que é lucro
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2006, Internacional, p. A20

VIVENDO NO APERTO

As prateleiras da padaria dos irmãos Yassin, de Jenin, esbanjam quitutes: biscoitos, rosquinhas e pães de todo tipo. Nada parece ter mudado nos últimos três meses. Exceto um detalhe: nas últimas semanas, 20% dos clientes começaram a pedir fiado. Mushir Yassin, de 28 anos, não perde o bom humor: "Não ligo. O importante é manter a clientela feliz." Mushir, que é dono do estabelecimento com mais dois irmãos, vende fiado por ideologia.

Para ele, este momento de crise é justamente a hora de mostrar solidariedade. "Os EUA não queriam democracia? Os palestinos escolheram o Hamas. Que tipo de democracia é a que estabelece quem pode ser eleito e quem não pode?", pergunta.

Ele revela que há mais de um mês não lucra um centavo. Em hebraico perfeito, conta que não odeia os israelenses. Pelo contrário. Morou 13 anos em Israel trabalhando de aprendiz de padeiro. Ele garante que fingiu o tempo todo que que era imigrante russo. "Eu me apresentava como Misha e dizia que era de Moscou. Todo mundo acreditou, inclusive a polícia", ri o palestino. "É uma pena que esse conflito acabe com nossas vidas. Sei que os dois lados querem a paz."