Título: Nas prisões do Paraná, coligação com o PCP
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2006, Metrópole, p. C3

Formado depois da transferência de líderes do PCC para três presídios paranaenses, em 1998, o Primeiro Comando do Paraná (PCP) é igual à facção original em, no mínimo, dois pontos: a propalada defesa dos direitos dos presos e o cumprimento de normas resumidas em um estatuto. O do PCP, que veio a público em 2001, falava de uma "coligação" com o PCC.

Para a presidente do Sindicato dos Servidores do Sistema Penitenciário do Paraná, Sandra Márcia Duarte, que está há 22 anos no sistema, o PCP está firmado como uma "forma de defesa local" diante do poder da facção paulista que lhe deu origem. Sandra crê não haver subordinação ao grupo paulista.

Com a chegada dos líderes do PCC José Márcio Felício, o Geleião, e Cesar Augusto Roris Silva, o Cesinha, ao Paraná, em março de 1998, as rebeliões nos presídios paranaenses intensificaram-se, assim como as mortes entre os presos rivais. Em novembro de 2001, a dupla foi "deposta" do comando do PCC, que foi assumido por Marcos Camacho, o Marcola.

O governo paranaense não reconhece a existência do PCP, embora o nome da facção tenha sido exibido em uma faixa, durante a rebelião em Foz do Iguaçu, no dia 15. Procurado, o coordenador do Departamento Penitenciário (Depen) do Paraná, coronel Honório Bortolini, não comentou o assunto.

BANCO CENTRAL

Temendo ações como as de São Paulo nos presídios cearenses, autoridades reforçaram o policiamento nas três unidades prisionais da região metropolitana de Fortaleza: o Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS) e o Instituto Penal Professor Olavo Oliveira 1 e 2.

No início do mês passado, Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, de 34 anos, irmão de Marcola, foi visto em Fortaleza. Uma equipe da polícia paulista esteve na cidade para prendê-lo, mas ele já havia voltado para São Paulo, onde foi detido no dia 23 de abril.

Marcola é suspeito de liderar duas grandes ações no Ceará. Uma foi em 1999, quando um bando invadiu a sede da empresa de segurança Corpvs e levou R$ 6,3 milhões. A outra ação foi em fevereiro de 2000, também contra uma empresa de segurança, a Nordeste Segurança de Valores (NVS), de onde foi roubado R$ 1,3 milhão. O delegado cearense Luiz Carlos Dantas, do Departamento de Inteligência Policial (DIP), diz desconhecer a atuação do crime organizado de outros Estados. O diretor do IPPS, Luiz Aldovandro Castelo, afirma não ter conhecimento de ações promovidas pelo PCC no presídio.

A Polícia Federal também apura a participação de integrantes do PCC no furto milionário ao Banco Central de Fortaleza, ocorrido em agosto de 2005. Bandidos levaram R$ 164,7 milhões do cofre do BC.

No Amazonas, não há dúvidas de que o PCC tenha ramificações nos três maiores presídios do Estado, na visão do procurador do Ministério Público Estadual João Bosco Sá Valente. Coordenador regional do Grupo Nacional de Combate às Organizações Criminosas (GNOC), ele comanda em Manaus há dois anos e meio uma investigação sobre o PCC no Estado. "A investigação inclui gravações de celulares de presos no Amazonas conversando com seus líderes em presídios de São Paulo."