Título: 'Nem todo bandido é ruim'
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2006, Metrópole, p. C3

Josias cresceu numa família ligada ao PCC. Dois primos, quatro tios e o padrasto estão mortos. Com três passagens pela Febem, ele está hoje no programa federal Primeiro Emprego e tenta se recuperar.

Como foi a sua infância?

Meu pai é bêbado, traficante de 3ª divisão. Meu avô é moral. Tem 3 biqueiras. Podia ser batizado (pelo PCC), mas é bandido velho. Não quer sabe de comando. É aliado. O padrasto me criou até os polícia pegar ele. Deixaram ele pingar (sangrar) até morrer. Tinha 5 biqueiras. Brincava comigo na sala pra eu não ver o preparo da droga no quarto. Me dizia pra não ir pro crime. Nem todo bandido é ruim.

Como você entrou?

Cansei de ver irmão com fome e minha mãe drogada. Ela perdeu moral no crack. Já vi apanhar de gerente (do PCC) com chicote. Era pra tá morta. Foi a tia (do PCC) que salvou. Pensei: vou roubar mais e melhor. Fugi pro meu primo, fiscal de lotação do PCC. Na primeira noite que cheirei, roubei. Tinha 15 anos. Meu tio avisou: se vacilar, eu te mato. Se for parente, pro PCC, não importa. Tem que matar. Briguei com um maluco no forró, o tio me puxou. "Tá louco?Quer me arrastar?" Ele tava com um Opala e um Fusca lotado de arma pra caso chegasse coxinha (policial) na quebrada.