Título: 'Já vi irmão ser picado vivo com machado'
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2006, Metrópole, p. C3

Jeferson, 18 anos, 'olheiro' do tráfico por 9 meses

Jeferson não fala da família. Diz que sempre andou na rua, atrás de "aventura" e ficava curioso para saber o que eram os números 1533 (código que significa PCC), tatuados por garotos do bairro.

Como você conheceu o PCC?

Nas quebradas todo mundo se conhece. Tinha 14 anos. Cabulava aula e ia pra praia em trem de carga. Conheci o PCC numa balada no litoral. Não tinha dinheiro. Me meti.

O que você fazia?

Ficava no telhado vendo o movimento. Já dei muito tiro: AR-15, 12, fuzil. Até granada peguei. Mas quem é primo não é obrigado a nada. Só não pode mostrar medo.

Quanto você recebia?

R$ 200, R$ 300 por semana. Gastava tudo em balada.

Como é o batismo do PCC?

Tem que matar um polícia ou verme (inimigo). Se não dá coragem, morre você. Eu não fui. Eu corro junto, mas não com as pernas do PCC. Nunca gostei do tráfico.

Por quê?

No rateio (do dinheiro da droga), se faltar, você paga. Morreu. Vi um irmão ser picado com machado na minha frente. Dívida. Deram as arma pra mim, jogaram ele no chão, puseram a faca no pescoço e começaram a picar. Foi quando eu vi que tinha que sair disso.