Título: Lula vai esperar pelo PMDB até o último instante
Autor: João Domingos e Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2006, Nacional, p. A14

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu deixar de molho a escolha do candidato a vice em sua chapa, pelo menos até as vésperas do dia 24, quando será realizada a convenção nacional do PT que ratificará sua candidatura à reeleição. Nesse período, o presidente vai insistir numa composição com o PMDB, ao qual já ofereceu a vaga de vice. O problema é que o PMDB é o PMDB. Dividido, não quer se vincular a nenhum candidato, pois pretende fazer as mais variadas alianças nos Estados para eleger o maior número de vereadores e deputados.

Com a decisão de aguardar a palavra final do PMDB, a discussão sobre ter na chapa ou o atual vice-presidente, José Alencar, ou o ex-ministro Ciro Gomes fica suspensa. "Não vamos trabalhar na escolha do vice agora. O presidente, a meu ver de forma correta, não quer que esse assunto seja explorado antes que as alianças comecem a se fechar nos Estados", explicou o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), coordenador da campanha de Lula.

Berzoini contou que o presidente trabalha com três cenários. O primeiro, fator de desejo de todos os partidos e garantia de governabilidade, é contar com o PMDB, que deve eleger uma bancada muito grande na Câmara, mais de 100 deputados. Para Lula, no caso de ser fechada uma aliança com os peemedebistas, um bom nome seria o do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim.

"Mas o escolhido pode ser o vice José Alencar", ressalvou Berzoini. Nesse caso, o presidente contaria com o apoio formal do PRB, partido da Igreja Universal do Reino de Deus e de Alencar. Seria uma forma de correr atrás dos votos dos evangélicos, fórmula que Lula adotou em 2002 e deu certo, naquela época por conta do PL, ao qual o vice era filiado.

Ciro Gomes, do PSB, é outro nome que Lula gostaria de ter na chapa. "Ciro já nos disse que não tem essa pretensão política, pois deseja mesmo é se candidatar a deputado federal. Mas, se for necessário, e se o presidente quiser, está à disposição", disse Berzoini. Nas conversas já mantidas com ele e com Lula, o ex-ministro afirmou que deve ter por volta de 300 mil votos para deputado, o que ajudaria o PSB a eleger uma boa bancada no Ceará.

O PSB enfrenta um problema nesta eleição, porque já está em vigor a cláusula de barreira, pela qual todo partido precisa ter pelo menos 5% dos votos no País e 2% em nove Estados para ter direito ao fundo partidário e aos programas gratuitos de rádio e TV. Os votos em Ciro poderiam, assim, ajudar no crescimento do PSB. A coligação com o PT, se for feita, também pode contribuir para que a sigla vença a barreira dos 5%, pois o voto é contado para a aliança.

ESTADOS

Para fechar a coligação com o PMDB ou com o PSB, o PT terá de oferecer muito mais do que a vaga de vice. Os problemas nos Estados são grandes e, em alguns casos, intransponíveis. No Distrito Federal e no Rio Grande do Sul, por exemplo, é impossível uma aliança entre o PT e o PMDB. Mas a coligação já está fechada na Bahia, onde o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB), um dos principais críticos do governo do presidente Lula, não só vai apoiar mas também será um dos comandantes da campanha do petista Jaques Wagner ao governo do Estado.

No Amazonas, o PT deve apoiar a candidatura à reeleição do governador Eduardo Braga, do PMDB. Em Rondônia, a senadora Fátima Cleide (PT) será intimada pelo partido a desistir de sua candidatura, sendo forçada a apoiar a do senador Amir Lando (PMDB), aliado do Palácio do Planalto. Em Goiás, há uma negociação para que o vice na chapa do favorito Maguito Vilela (PMDB) seja o presidente do PT regional, deputado Rubens Otoni.

Em Santa Catarina, onde PT e PMDB foram adversários muito duros, o ex-ministro José Fritsch (PT) está sendo forçado a abrir mão de sua candidatura em favor da do peemedebista Luiz Henrique. No Tocantins, o PT vai apoiar a reeleição de Marcelo Miranda, do PMDB.

A coligação com o PSB e com o PC do B também exigirá sacrifícios do PT. Em Pernambuco, por exemplo, o ex-ministro Humberto Costa (PT) pode desistir da candidatura ao governo para apoiar a do também ex-ministro Eduardo Campos (PSB). Juntos, eles poderiam bater o candidato do PFL a governador, Mendonça Filho. Em Brasília, a ex-vice-governadora Arlete Sampaio (PT) é que deve ser obrigada pelo partido a desistir de sua candidatura, para reforçar a do ex-ministro Agnelo Queiroz (PC do B).