Título: Terremoto mata 3 mil na Indonésia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2006, Internacional, p. A22

Um terremoto de 6,2 graus na escala Richter provocou ontem a morte de mais de 3 mil pessoas, feriu dezenas de milhares e deixou pelo menos 200 mil desabrigados na ilha de Java, a mais povoada do arquipélago da Indonésia, informou o Ministério dos Assuntos Sociais. É a maior catástrofe natural que atinge a região desde o tsunami de 26 dezembro de 2004, que deixou 220 mil mortos.

Segundo o ministro de Assuntos Sociais indonésio, Jopar Jaya, a situação é dramática em Bantul e Yogyakarta, cidades densamente povoadas e próximas ao epicentro do terremoto. As duas cidades são históricas e atraem milhares de turistas com seus templos e palácios que datam do século 9 (ler abaixo).

O presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, ordenou às Forças Armadas que colaborem nas operações de remoção de escombros e resgate de eventuais sobreviventes. Ele pediu o envio imediato de barracas, água potável, comida e remédios aos acampamentos e abrigos improvisados para sobreviventes - alguns deles instalados nas encostas do vulcão Merapi, considerado o mais ativo do planeta. O vulcão fica a apenas 30 quilômetros de Yogyakarta.

Desde o início do mês, o Merapi ameaça entrar em erupção. Vulcanólogos indonésios e ocidentais não afastam a possibilidade de uma relação entre as atividades do vulcão e o terremoto de ontem.

Em Bantul, Yogyakarta, Sleman, Gununkidul e Kulonrogo, cidades mais afetadas, moradores desesperados misturam-se aos socorristas numa busca frenética por parentes desaparecidos.

Um sobrevivente contou ao jornal digital Detikcom que Bantul ficou totalmente destruída. "Não há uma casa de pé", disse ele.

Testemunhas em Yogykarta disseram que as pessoas fugiam apavorados de suas casas. "A minha caiu segundos depois que a abandonei com minha família", disse um sobrevivente. "Perdi em segundos o que levei uma vida inteira para construir", lamentou outro em lágrimas .

As imagens da televisão indonésia mostraram casas em ruínas, muros destruídos ou com grandes fendas, além de carros tombados.

"Continuam chegando pacientes. Agora já temos cerca de 1 mil", disse Sri Endarini, diretor do Hospital Geral Sardjito, o maior de Yogyakarta. Ele explicou que corredores e salas de espera foram adaptados para atender todas as vítimas. A situação se repete em mais de dez centros médicos e ambulatórios da cidade.

O abalo chegou a ser sentido até na cidade de Semarang, no litoral norte de Java. Segundo o Instituto Geológico dos Estados Unidos, a terra começou a tremer pouco depois do amanhecer, às 5h54 de sábado (19h54 de sexta-feira em Brasília), quando a maioria da população ainda dormia. Durou 57 segundos e ocorreu a uma profundidade de 17 quilômetros.

Um porta-voz do instituto americano acrescentou que houve pelo menos dois tremores secundários: um de 5,2 graus e outro de 4,9 graus. "Não existe risco de tsunami (onda gigante)", tranqüilizou. Contudo, previu a possibilidade de novos tremores. "Aconselhamos à população que busque um lugar seguro para passar a noite; ninguém deve dormir dentro de casas cujas estruturas apresentem rachaduras", alertou.

O aeroporto de Yogyakarta está fechado em razão de sérios danos e da saturação das linhas telefônicas. Isso dificulta a chegada de ajuda às vítimas. Mas o governo indonésio esperava ontem normalizar a situação em poucas horas.

Embora toda a Indonésia seja uma região de grande atividade sísmica por estar localizada no chamado Anel de Fogo do Pacífico, essa área, em particular, não costuma registrar terremotos como o de ontem.

A Indonésia é o quarto país no ranking dos mais populosos com 223 milhões de habitantes. Além disso, tem a maior comunidade muçulmana do mundo.

O histórico de desastres naturais é extenso. Além do catastrófico tsunami de 2004, em março do ano passado, outro maremoto, de 8,7 graus de magnitude, sacudiu a ilha de Nias, em Sumatra, e matou 1.300 pessoas.