Título: Crise adia agenda de mudanças
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2006, Economia & Negócios, p. B5

A turbulência no mercado externo, da qual o Brasil não escapou, está tornando difícil à equipe econômica achar tempo para discutir medidas de médio e longo prazos. "O ministro me pediu para olhar para a frente, mas pergunte o que eu fiz sobre isso esta semana", disse ao Estado o secretário de Política Econômica, Júlio Sérgio Gomes de Almeida. Ele consumiu seus primeiros dias como membro do governo entre as reviravoltas do mercado e a formulação de um pacote agrícola que acabou sendo chamado de "embrulho" pelos produtores rurais. Não houve tempo para nada mais.

O projeto, porém, não foi abandonado. O secretário está determinado a achar tempo para dedicar-se à formulação de políticas que garantam o crescimento sustentado da economia. Ele quer, por exemplo, propor medidas para uma reforma do Estado, com um choque de gestão na administração pública. Também estarão na pauta as reformas na estrutura da economia - como a tributária. Ele nega que essas sejam as linhas do programa econômico de um eventual segundo mandato do presidente Lula, "são idéias para o futuro do País".

Isso não significa que haja um descasamento entre as políticas formuladas pelo Ministério da Fazenda e aquilo que o candidato Lula defenderá na campanha à reeleição. O presidente já discutiu as linhas gerais de seu programa econômico com os ministros da área.

"Não vai poder ser um programa de oposição; tem de ser algo que defenda e valorize o que fizemos até agora e aponte para a frente", disse o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

NOVA DIREÇÃO

Almeida, ex-diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e antigo crítico do juro alto e câmbio baixo, foi anunciado como secretário de Política Econômica segunda-feira. Sua chegada ao Ministério da Fazenda deixou os empresários esperançosos de que teriam seus pleitos analisados com maior boa vontade.

Mas o próprio ministro Guido Mantega jogou um balde de água fria nas expectativas de quem esperava uma guinada nas linhas básicas da política econômica. "Não há nenhum sinal na indicação do Júlio Sérgio", disse. "É normal que você adote algumas posições quando está numa determinada situação", acrescentou, referindo-se às críticas que Almeida fazia às políticas de câmbio e juros. O próprio secretário disse ao Estado que sua chegada não deveria ser interpretada como uma mudança de rumo ou de tom na política econômica. "Não tem nada disso", afirmou.

Os fatos, porém, mostram que a equipe do Ministério da Fazenda agora está mais aberta ao diálogo com o setor privado - o que não quer dizer que os resultados sejam diferentes dos obtidos na gestão de Antonio Palocci. Quarta-feira, Almeida discutiu possíveis alterações na legislação do câmbio com o diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca. A entidade defende um conjunto de modificações nos regulamentos sobre câmbio, que foram reunidos num projeto de lei. Apresentadas em fevereiro, as propostas esbarraram na resistência do Banco Central e não avançaram.

Agora, o Ministério da Fazenda sinaliza que vai caminhar na direção das mudanças pedidas pela Fiesp.