Título: Lula joga tudo pela união com PMDB
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2006, Nacional, p. A12

Abalo na candidatura Alckmin e desmonte da pré-campanha de Garotinho estimulam movimento dos petistas

O Palácio do Planalto decidiu imprimir força total à operação para fechar a aliança com o PMDB em torno de sua reeleição. O esforço é comandado diretamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está passando o fim de semana na zona rural de Minas, na propriedade do ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia.

O esforço inclui a cúpula do PT e vem no embalo da crise na candidatura do tucano Geraldo Alckmin, em queda nas pesquisas, e no desmonte da pré-candidatura de Anthony Garotinho (PMDB), já considerado carta fora do baralho pelos correligionários. Leva-se em conta ainda o relatório do PT que aponta possibilidade de alianças em vários Estados.

Quem está à frente da operação é o ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro (PT), que deu início à missão presidencial na terça-feira, durante encontro com o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP). "Senti muita honestidade nas palavras do Tarso, quando ele ofereceu o cargo de vice de Lula ao partido e disse que o presidente queria fazer uma aliança programática e uma coalizão, dividindo o governo e entregando setores da administração ao PMDB", relatou Temer a um líder do partido.

A proposta de "divisão do governo" agradou até aos defensores da candidatura própria do PMDB, como o próprio Temer. Segundo um dos operadores palacianos, foi Temer quem sugeriu que a costura nos Estados começasse por São Paulo.

A preferência do Planalto na disputa paulista é pelo senador Aloizio Mercadante. Tarso e o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, conversaram com o presidente do PMDB paulista, Orestes Quércia, na quinta-feira e, para demonstrar a boa vontade do PT na negociação, ofereceram o posto de vice-governador na chapa petista e mais: deixaram em aberto a negociação da vaga ao Senado, onde o favorito é o senador Eduardo Suplicy (PT).

A articulação Brasil afora será feita em dupla, por Tarso e Berzoini. O quebra-cabeça nos Estados é difícil de montar, mas a regra geral será entregar a cabeça-de-chapa ao partido mais forte na região. Um colaborador presidencial diz que problemas mais urgentes a serem resolvidos, que o relatório do PT cita como possibilidades de aliança, são Paraíba, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná. Na Paraíba, o PT praticamente não existe, mas o ex-deputado Avenzoar Arruda insiste em disputar contra o senador José Maranhão (PMDB).

No início do governo Lula, o então ministro José Dirceu trabalhou para fazer uma aliança com o PMDB, mas acabou desautorizado pelo próprio chefe. A diferença fundamental agora é que o presidente faz questão da aliança e admite que ela será essencial à governabilidade em seu eventual segundo mandato.

Tanto que a negociação inclui o termo "divisão de governo". É por isto também que um senador do PMDB, apontado como favorito na disputa pelo governo de seu Estado, diz que hoje considera a aliança uma possibilidade concreta.

PT e Planalto apostam fortemente na aliança com o PMDB diante da possibilidade crescente de a disputa presidencial ser encerrada em um só turno. Com Lula muito forte especialmente no Norte e no Nordeste, aliados do governo dizem que até em Pernambuco, onde o ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) tem uma aliança de uma década com PFL e PSDB, a parceria com o PT é possível.

Um articulador do governo argumenta que Lula tem mais de 60% da preferência do eleitorado pernambucano e, mesmo que Jarbas esbraveje contra a aliança, a vinculação de seu PMDB com Lula na disputa pelo Senado só iria ajudá-lo. "Serão só queixas da boca para fora", aposta o parlamentar.

A cúpula governista do PMDB, no entanto, recusa-se a falar em aliança agora. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), é um dos líderes governistas que insistem na tese de que a regra da verticalização das coligações, que proíbe os partidos de se aliarem nos Estados com adversários na corrida presidencial, transformou a parceria PT-PMDB em "possibilidade longínqua".

Para Renan, "as coisas" têm de ser resolvidas por etapas e a próxima é a convenção extraordinária de 13 de maio, que une governistas e independentes empenhados em derrotar a tese do candidato próprio a presidente para preservar a liberdade de alianças.

Embora tenha iniciado a negociação institucional com o presidente do PMDB, Tarso tratou de garantir a Renan que tanto ele quanto o senador José Sarney (PMDB-AP) continuarão tendo papel fundamental na interlocução entre o partido e o governo. Aparadas as arestas, o próprio Renan tranqüilizou Lula quanto ao resultado da convenção. Disse estar certo de que os convencionais decidirão que o partido não deve lançar candidato à Presidência.