Título: Economista é crítico da ação do BC
Autor: Vânia Cristino, Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2006, Economia & Negócios, p. B5

Vice do Banespa em 90/91, ficou com bens indisponíveis

O novo secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Júlio Sérgio Gomes de Almeida, já tinha tido uma indicação de que poderia integrar a equipe econômica do atual governo antes mesmo da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Num encontro com empresários, o então candidato à Presidência da República mostrou interesse em ter Gomes de Almeida na equipe. "Algum dia eu vou roubar esse cara de vocês", teria dito Lula, segundo um integrante do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde leciona há 23 anos, Gomes de Almeida ocupa o cargo de diretor-executivo do Iedi desde 1997. O Iedi, hoje presidido por Josué Gomes da Silva, superintendente-geral da Coteminas e filho do vice-presidente da República, José Alencar, foi criado em 1989 por um grupo de empresários que não via na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) uma estrutura capaz de formular uma política alternativa para o desenvolvimento e modernização do setor. O instituto reúne atualmente 48 empresários que dirigem grandes indústrias privadas como Votorantim, Gerdau, Sadia e Grendene, entre outras.

Gomes de Almeida foi vice-presidente do Banco do Estado de São Paulo (Banespa), entre 1990 e 1991, quando a entidade era presidida por Antonio Claudio Pereira Sochaczewski. Como os demais ex-administradores do Banespa à época, Gomes de Almeida chegou a ter os bens arrestados pela Justiça, depois que a instituição sofreu intervenção do BC, no final de 1994, por causa das diversas irregularidades nas operações de crédito, incluindo as chamadas operações de antecipação de receitas orçamentárias (Aro) do governo estadual. Para pegar todas as operações consideradas ilegais, o decreto de intervenção retroage aos cinco anos anteriores.

Crítico da política de juros elevados do BC , Gomes de Almeida contribuiu para dar "corpo e substância" à atividade do Iedi, segundo um empresário que acompanhou o trabalho do economista nos últimos nove anos. "A linha de pensamento do Júlio se confunde com a do Iedi. Provavelmente, ele levou o Iedi a enxergar algumas coisas de maneira nova."

Gomes de Almeida trabalhou no Ministério da Fazenda entre 1985 e 1997, como coordenador-chefe do Programa de Ajustamento da Economia Brasileira e secretário especial-adjunto da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos.