Título: Lula convida PMDB a indicar vice de sua chapa
Autor: João Domingos ... [et al]
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2006, Nacional, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidou ontem o PMDB a indicar o candidato a vice na chapa que será encabeçada pelo PT, em reunião de cerca de uma hora com o ex-governador Orestes Quércia, no Palácio do Planalto. Foi o segundo assédio seguido do PT ao PMDB. Antes, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, havia procurado o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), para fazer o convite.

Quando Quércia deixou o Planalto, assessores de Lula não escondiam o clima de comemoração. "O que aconteceu hoje aqui foi muito importante para a sucessão", resumiu um assessor direto de Lula. O Planalto avalia que, ao longo do encontro, Lula conseguiu abrir brecha para efetivar a coligação que freqüenta seus melhores sonhos da reeleição - acordo com o PMDB, onde o partido teria direito à vaga de vice, de preferência com o ex-ministro do Supremo Nelson Jobim. Mesmo admitindo que nada foi resolvido até agora, auxiliares do presidente afirmam que a coligação deixou de ser um sonho para se transformar em possibilidade real.

O problema é que a outra parte se mostra bem menos empolgada com o convite - e isso ajuda a compreender por que, no final da tarde, Tarso Genro deu entrevistas negando ter havido oferta da vaga de vice. "O presidente Lula mencionou que, se fosse candidato e se o PMDB optasse por uma coligação, obviamente que o PMDB teria toda a força política, pela dimensão nacional que tem, para indicar o vice nessa chapa", disse Tarso. "Mas não houve oferecimento da vice."

No Planalto, Quércia deixou claro que seu partido pode fazer aliança com PT ou com PSDB. Disse que, neste momento, o partido de Lula leva vantagem, até porque a chapa do PSDB já tem vice, do PFL. Mas desconversou. "Dentro do PMDB, a minha intenção é ir até o fim com o candidato próprio", afirmou, referindo-se ao senador Pedro Simon, que hoje se propõe a ser candidato. "Ele (Lula) fez uma proposta. Tenho que levar em conta, analisar, porque ele é o candidato com condição de ganhar."

O destino do partido não depende de simples convites do PT. O PMDB evita participar de uma aliança formal, porque ela amarraria suas candidaturas aos governos estaduais, ao Senado e à Câmara dos Deputados. "Queremos fazer o maior número de governadores, senadores e deputados", repete Michel Temer.

O senador Aloizio Mercadante, candidato do PT ao governo de São Paulo, participou da reunião com Quércia. Lula ofereceu a Quércia também a vaga de vice na chapa de Mercadante. Com isso, a coligação liderada pelo PT em São Paulo passaria a ter mais cinco minutos no programa eleitoral, o que, na opinião de petistas, poderia ajudar a reduzir a distância para o favorito, José Serra, do PSDB.

O próprio Quércia diz que seria candidato ao governo do Estado, caso o PMDB tenha candidato próprio à Presidência. Em São Paulo, o partido teria ainda um candidato ao Senado - inicialmente entre o ex-deputado Marcelo Barbieri e a ex-secretária da Prefeitura de São Paulo Alda Marco Antônio.

AGRADOS

Com esperança na aliança, os agrados do PT ao PMDB já começaram. Um exemplo: o governo ontem confirmou o senador Romero Jucá (PMDB-RR) no cargo de líder no Senado, deixado por Mercadante. E as negociações prosseguem. Depois da reunião com Quércia, o ministro Tarso Genro almoçou com o ex-presidente José Sarney (AP), com o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL) e com o deputado Jader Barbalho (PA). Saiu do encontro convencido de que terá PMDB, em aliança formal ou não.

Michel Temer acha que hoje a aliança não pode mais ficar em torno de cargos, como ocorreu durante os governos Fernando Henrique e Lula. "É preciso fazer uma coalizão governamental", disse ele, referindo-se a um arranjo em que o PMDB teria parcelas do governo para administrar. "Se tivermos êxito, mérito nosso; se fracassarmos, demérito nosso; se houver corrupção, problema nosso", explica Temer.

O presidente peemedebista sabe que pode fazer essa reivindicação. Afinal, o PMDB poderá eleger o maior número de deputados, senadores e governadores e será imprescindível para a governabilidade no próximo mandato.