Título: ' Seremos donos do nosso nariz ', diz Lula
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2006, Economia & Negócios, p. B4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, no seu programa semanal Café com o Presidente, que o Brasil terá de atingir a auto-suficiência na produção de gás para não depender mais da importação do gás boliviano. "Nós temos de ser donos do nosso nariz. O Brasil tem condições e, portanto, nós vamos trabalhar para que o Brasil seja auto-suficiente", disse Lula.

Essa é a primeira vez que o presidente fala diretamente sobre a necessidade de o País se livrar da dependência do gás da Bolívia desde que começou a crise diplomática com a nacionalização de ativos da Petrobrás.

Antes de Lula, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, já havia classificado de "erro estratégico" essa dependência.

Lula afirmou que o Brasil precisa "se preparar nessa questão energética", mas não vai faltar gás. "Eu posso garantir que não faltará gás, que os táxis continuarão funcionando a gás, que as casas que têm gás encanado continuarão recebendo gás e as indústrias que estão produzindo continuarão."

CONVERSA COM EVO O programa foi gravado na noite de domingo, logo depois de o presidente chegar de Viena, onde conversou com o presidente da Bolívia, Evo Morales, durante a 6ª Reunião de Cúpula União Européia e América Latina e Caribe. Lula contou que disse a Evo que o Brasil reconhece que a Bolívia é dona do seu gás e "os bolivianos reconhecem que o Brasil é o maior consumidor".

"Então, nós somos dois países que precisamos estar em paz, precisamos ter tranqüilidade e precisamos, na renovação dos acordos que temos de fazer, levar em conta, primeiro, o contrato que nós temos; segundo um preço que seja justo para os bolivianos e, ao mesmo tempo, seja justo para os brasileiros que consomem o gás", afirmou.

O presidente falou ainda sobre a tentativa brasileira de desemperrar as negociações na Organização Mundial de Comércio (OMC), a Rodada Doha. Lula afirmou esperar que em julho, no encontro dos países ricos do G-8, em São Petersburgo, na Rússia, seja possível marcar uma nova reunião e "firmar o acordo definitivo da OMC".