Título: PMDB avalia que é o mais prejudicado
Autor: Ricardo Noblat e Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2006, Nacional, p. A10

A mudança nas regras das alianças eleitorais atingiu em cheio o PMDB e ressuscitou a tese do lançamento de um candidato do partido à corrida presidencial. "A primeira impressão é a de que começa a renascer a candidatura própria que ontem estava praticamente sepultada", resumiu o presidente nacional do partido, deputado Michel Temer (SP).

Sempre divididos, peemedebistas de todas as alas juntaram-se ontem na avaliação de que o partido foi o maior prejudicado com os novos limites impostos às alianças nos Estados. O PMDB tem o maior número de candidatos competitivos a governador e abriu mão da candidatura presidencial para preservar o seu projeto de poder nos Estados.

Como o partido sonha eleger um mínimo de 15 governadores e as maiores bancadas na Câmara e no Senado, preferiu abrir mão da disputa do Planalto para manter liberdade total de alianças nos Estados. Ante a mudança, a Executiva Nacional decidiu reunir todos os candidatos a governador em Brasília na segunda-feira, para reavaliar o quadro político.

Mais do que surpreender, a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desagradou a todas as alas da sigla com a ameaça de que terão de desmontar parcerias já acertadas. A primeira avaliação foi que a decisão só servia ao PT. Mas depois que reunião da ala governista do partido com Lula concluiu que PT e PMDB poderiam compor em até 21 Estados, logo se previu que a decisão jogaria de vez o PMDB nos braços de Lula.

"Isso é coisa do governo", reagiu o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), da ala oposicionista. Para ele, como a decisão do TSE veio em resposta a uma consulta do PL, da base de sustentação de Lula, tudo teria uma origem: "Isso seguramente foi combinado com o Planalto, para ajudar o governo, fortalecendo o palanque do Lula nos Estados."

Nos bastidores, líderes governistas levantaram a suspeita de que a mudança "tinha o dedo" do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim. Ex-deputado pelo PMDB, Jobim é o vice dos sonhos de Lula.

A ala governista do partido teme, no entanto, que o ex-governador Anthony Garotinho (RJ) se fortaleça com a nova regra e queira ressuscitar sua candidatura. Por isso, no início da noite, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Sarney (PMDB-AP) dirigiam-se indignados ao TSE, em busca de maiores esclarecimentos com o ministro Marco Aurélio Mello.