Título: Alckmin cobra explicações de Lula
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2006, Nacional, p. A7

Presidenciável tucano diz que novas revelações envolvem diretamente o presidente, que deveria se pronunciar

O pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, cobrou ontem explicações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com base nas novas informações reveladas pelo ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira. Para o ex-governador, Silvinho deixou clara a existência de uma relação "promíscua" entre o PT e o governo, além do envolvimento de Lula no esquema do empresário Marcos Valério, apontado como operador do mensalão.

Na avaliação de Alckmin, "é óbvio" que as novas revelações de Silvinho implicam o presidente nas denúncias. Ele ressaltou que, de acordo com o ex-secretário petista, quem mandava no PT era Lula. Trata-se, segundo o pré-candidato, "de um vínculo forte".

"O presidente Lula deve se manifestar. É inaceitável ele dizer que não sabe de nada, que não ouviu nada das coisas que se passam ao lado da sua sala. Depois, diz que não lê jornal, não vê televisão. É um mundo de faz-de-conta", anotou Alckmin, ressaltando que o presidente tem adotado "uma visão anti-republicana" desde o início da crise, há quase um ano, ao se furtar de dar esclarecimentos.

Seguidor do governador Mário Covas , morto em 2001, Alckmin recorreu, como de costume, aos ensinamentos do homem que foi seu padrinho político para cobrar responsabilidade de Lula. "O Mário Covas dizia: no meu governo, se alguém erra, fui eu quem errei, pois fui eu quem nomeei. É preciso prestar contas à sociedade", enfatizou.

O presidenciável tucano, que passou ontem o dia em São Paulo - em contatos políticos em seu escritório, no Itaim, zona sul -, sugeriu que Lula tome a iniciativa de prestar esclarecimentos. "Na vida pública, e o nome já diz, tem que prestar contas todo dia."

Classificada de "gravíssima" a informação revelada por Silvinho ao jornal O Globo de domingo - o ex-dirigente do PT disse que o plano de Marco Valério era arrecadar R$ 1 bilhão no governo Lula - , Alckmin propôs a Lula que conceda uma entrevista coletiva para explicar os fatos.

O ex-governador de São Paulo frisou que as revelações do ex-secretário-geral do PT deixam claro que Lula sempre "mandou no PT". "As declarações são graves. Não vêm da oposição, mas sim de alguém que tem mais de 20 anos no PT, é um alto dirigente do partido, que viveu esses anos e deixa claro que quem mandava no PT era o presidente Lula, seus ministros e assessores diretos."

Alckmin também insistiu na necessidade de a CPI dos Bingos convocar Silvinho e Marcos Valério. Apesar da importância que deu às novas revelações do ex-secretário do PT e ao suposto envolvimento de Lula, Alckmin não demonstrou ser favorável à abertura de um processo de impeachment.

"Eu nunca coloquei com empenho essa questão. Se você discute isso, passa a discutir luta política, que não é o que mais interessa", afirmou ele, ao ser questionado sobre a decisão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de rejeitar o pedido de abertura do processo de impedimento.

Sobre eventual participação da oposição no escândalo que abateu o governo, Alckmin lembrou que as denúncias que detonaram a crise política da gestão Lula vieram da própria base de sustentação do governo. "Não foi nem a oposição que iniciou esse processo. Foi um deputado da base do governo (Roberto Jefferson, presidente do PTB). Nós todos fomos surpreendidos. E Silvio Pereira, que eu saiba, não é filiado ao PSDB."