Título: O grande sonho era assumir a Fazenda
Autor: João Domingos, Ricardo Brand, Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2006, Nacional, p. A5

Apoio de Lula, mesmo que velado, foi decisivo para vitória sobre Marta

Antes de ser candidato ao governo de São Paulo pelo PT, o grande sonho do senador Aloizio Mercadante era se tornar ministro da Fazenda. Esforços para isso ele fez, mas não obteve sucesso. Quando Antonio Palocci caiu, em março, o presidente Lula optou por Guido Mantega para substituí-lo no Ministério da Fazenda.

O senador é filho do general Oswaldo Muniz Oliva, que foi presidente da Escola Superior de Guerra (ESG) e teve participação destacada no regime militar. Mas o filho, desde os anos 70, entrou para o movimento estudantil e lutou contra a ditadura. Há exatamente um ano, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) o lembrou disso. Houve réplica e tréplica. Nelas, Mercadante disse que nunca concordou com o pensamento ideológico do pai.

O fato, no entanto, não o afastou do convívio com a caserna. O parlamentar é o padrinho da nomeação do general Francisco Albuquerque para o Comando do Exército. Das três vezes em que Albuquerque esteve para ser demitido, por se envolver em polêmicas no governo, Mercadante segurou o cargo do general e amigo.

Mercadante é um político dedicado ao que faz. Tanto é que não costuma ter um assessor ao lado quando defende os projetos do governo. É também muito vaidoso e não admite erros. Fará 52 anos no dia 13. Mas, ao contrário de colegas de Senado, que com essa idade já estão fora de forma, ele se cuida fisicamente muito bem. Gosta de jogar futebol e pode ser enquadrado na categoria dos parlamentares "quase craques", como Maguito Vilela (PMDB-GO). Reclama, porém, do pouco tempo para a prática do esporte.

Sua filha Mariana, de 22 anos, é formada em jornalismo e faz ciências sociais na Universidade de São Paulo (USP); o caçula, Pedro, de 20 anos, resolveu seguir o caminho do pai: cursa economia, também na USP.

Em 1980, Mercadante participou da fundação do PT, do qual foi vice-presidente e secretário de Relações Internacionais. Em 1994 tinha a reeleição para deputado garantida, mas aceitou ser candidato a vice-presidente de Lula numa eleição perdida.

Em 1998, voltou à Câmara como o terceiro deputado mais votado do País, com 241.559 votos. Em 2002, elegeu-se senador com a maior votação da história nacional - 10.497.348 votos.

APOIOS

A vitória de Mercadante sobre Marta Suplicy na disputa é atribuída a dois fatores: o apoio - ainda que discreto - do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a articulação encabeçada pelo próprio senador com prefeitos e parlamentares do Estado. Dos 57 prefeitos petistas de São Paulo, apenas um - Marcelo Cândido, de Suzano - deixou de apoiá-lo.

"A vitória do Mercadante deixou claro, para aqueles que tinham alguma dúvida, de que quem manda no PT ainda é o presidente Lula", afirmou um petista alinhado à ex-prefeita.

Um dos coordenadores da pré-campanha de Mercadante, o prefeito de Guarulhos, Elói Pietá, minimiza o apoio de Lula. Diz que o presidente não interferiu no processo e que sua preferência por Mercadante "não ficou tão pública assim". Na avaliação de Pietá, o que pesou, indiscutivelmente, foram apoios como o do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (um dos absolvidos no escândalo do mensalão), em Osasco, de prefeitos, vereadores, deputados federais e estaduais.

Outro coordenador da pré-campanha de Mercadante, o deputado estadual Vicente Cândido, concorda. "O apoio de João Paulo e de toda sua base organizada no interior do Estado e na Grande São Paulo foi decisivo para o resultado final das prévias", afirmou o parlamentar.

Somado a isso, Mercadante fez valer seu preparo como líder do governo para não deixar o debate concentrado apenas na capital paulista, erro que teria sido cometido por Marta. A avaliação da cúpula do PT é que, como o adversário na corrida ao Palácio dos Bandeirantes será o ex-prefeito José Serra (PSDB), o embate ficará nacionalizado. Daí o peso de Mercadante, já acostumado a enfrentar a oposição diariamente no Senado.

Isso, aliás, vai se tornar uma dificuldade para ele deixar o cargo de líder do governo no Senado ainda no primeiro semestre. O Palácio do Planalto o considera o único petista que efetivamente defende o governo dos ataques da oposição com o vigor necessário.

Às vezes Mercadante tem de subir à tribuna quatro ou cinco vezes por dia para, solitariamente, fazer a defesa do governo. Também tem de vigiar o que ocorre nas comissões importantes, como a de Constituição e Justiça e de Assuntos Econômicos, e as CPIs. Seus parceiros de PT - à exceção de Tião Viana (AC) e Ideli Salvatti (SC) - não dão a menor importância para o que fala a oposição, seja uma simples crítica, seja a pregação do impeachment.