Título: Venezuela adere ao Mercosul
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2006, Economia & Negócios, p. B8

Um "novo Mercosul". Esta foi a definição do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, para a assinatura, ontem, em Buenos Aires, do Protocolo de Adesão que fixa em quatro anos, no máximo, a integração total de seu país ao Mercosul. Desta forma, o Mercosul, que desde seu início, em 1991, era um quarteto formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, passará a ser um quinteto com a entrada da Venezuela e terá um peso de 76% do Produto Interno Bruto (PIB) da América do Sul.

O protocolo será referendado pelos presidentes dos cinco países na reunião de cúpula do Mercosul marcada para os dias 20 e 21 de julho na cidade argentina de Córdoba. Segundo a Chancelaria argentina, a assinatura do protocolo "confirma o compromisso do Mercosul e da Venezuela com a consolidação do processo de integração da América do Sul no contexto da integração latino-americana".

Ao longo dos próximos quatro anos, a Venezuela terá de se adaptar às normas do Mercosul, incluindo a aplicação da Tarifa Externa Comum (TEC). No entanto, o livre comércio da Venezuela com os quatro sócios restantes só será total a partir de janeiro de 2013. Até lá, o comércio venezuelano com o quarteto fundador do bloco será liberado gradualmente.

As negociações para a entrada da Venezuela andavam a passo acelerado desde julho de 2004, mas ganharam mais força em dezembro passado, na cúpula de Montevidéu. Na ocasião, a Venezuela foi definida como "sócio pleno em processo de adesão", com direito a voz, mas sem direito a voto nas reuniões do bloco.

Em Caracas, clima no governo venezuelano era de celebração. "É uma decisão histórica! Nos causa grande júbilo! Estamos chegando a um novo Mercosul, que já não é o do ex-presidente Carlos Menem e dos outros presidentes neoliberais, até do próprio Fernando Henrique Cardoso, do Brasil, que anda falando coisas por aí e que, bem, passou para o lado da direita", declarou Chávez, eufórico.

Chávez eliminou há poucos dias o principal empecilho para o ingresso de seu país no Mercosul ao retirar a Venezuela da Comunidade Andina de Nações (CAN). Segundo ele, com a inclusão da Venezuela no Mercosul, cria-se um novo eixo econômico no hemisfério.

O presidente venezuelano expressou que deseja que o quinteto se transforme, em breve, em um sexteto, com a eventual entrada da Bolívia, governada por seu amigo, Evo Morales. "O presidente Morales, me consta, tem essa vontade política."

CONFLITOS A entrada do novo sócio ocorre no meio de uma das piores crises do clube do Cone Sul. Nos últimos meses, o Mercosul foi abalado por uma revolta dos sócios pequenos, isto é, o Uruguai e o Paraguai, que reclamam que os grandes - Brasil e Argentina - tomam decisões sem consultá-los. Além disso, lamentam o surgimento de diversas barreiras protecionistas.

Os sentimentos de indignação propiciaram, pela primeira vez, debates sérios em Montevidéu e Assunção sobre a eventualidade de assinar acordos de livre comércio com os Estados Unidos. Além disso, existem elevadas tensões entre a Argentina e o Uruguai por causa do conflito causado pela instalação, no município uruguaio de Fray Bentos, de duas megafábricas de celulose.

Kirchner exige a suspensão das obras alegando que as empresas vão causar um apocalipse ambiental, com graves conseqüências econômicas. O presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, resiste às pressões argentinas, alegando que as fábricas são essenciais para a recuperação econômica de seu país.